Evitar abusos de poder na gestão da TAP por parte do Estado português, só com a presença de um investidor com um acionista forte. A Qatar Airways encaixa-se neste modelo ao ser detida integralmente pelo Estado do Qatar.
“Qualquer abuso de poder pelo acionista Estado rapidamente se transformará num incidente diplomático e o Qatar terá várias formas de impedir tais abusos. Só este tipo de “privado” é que poderá conviver com o nosso Estado”, disse o especialista em aviação Pedro Castro ao Jornal Económico (JE).
“Só mesmo uma companhia de um Estado forte como o Qatar poderá garantir que o privado minoritário está em pé de igualdade com este Estado português que, em matérias aeronáuticas, se porta de forma vergonhosa com os privados”, afirmou, dando os exemplos do processo de privatização da Azores Airlines e das revelações da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.
A Qatar Airways chegou a estar interessada na compra de 40% da TAP em 2011, mas o negócio nunca avançou.
A entrada da companhia qatari no capital da TAP “seria visto de forma mais neutra e sem conotações e debates sobre as preferências europeias específicas de cada deputado ou ministro”.
O Governo do Qatar é atualmente o maior acionista da IAG, com mais de 26% do capital.
O consultor da SkyExpert destaca que o investimento da Qatar Airways na TAP “faz sentido”, por o Qatar já deter a maior participação na IAG, dona da British Airways e da Iberia: “Tendo em conta a enorme animosidade populista e partidária à volta do grupo IAG, por este incluir a Iberia, a estratégia desse grupo poderia passar pela aquisição dos 44.9% primeiro pela Qatar Airways que é, por sua vez, o acionista mais relevante do grupo IAG. Na eventualidade remota do restante capital da TAP ser vendido, então essa parte poderia ser adquirida pela IAG”.
O JE pediu uma reação à Qatar Airways, mas não obteve resposta até ao fecho da edição.
A consolidação do setor aéreo europeu é uma realidade neste momento: a Lufthansa comprou 41% da ITA (ex-Alitalia) com a possibilidade de aumentar a participação até 100%. Depois, a Air France-KLM aumentou a sua participação na escandinava SAS de 20% para 60%. Em Espanha, a IAG pode vender a sua posição de 20% na Air Europa se a dona da empresa - a Globalia - vender outros 20% à Lufthansa ou à Air France-KLM, o que levanta problemas para a TAP. “Se a companhia ficar sob controlo de um desses dois grupos antes do negócio da TAP, a TAP passará a ser redundante ou mesmo impossível de ser adquirida pelo grupo vencedor”, destaca Pedro
Qatar na TAP evita abusos por parte do acionista Estado
Especialista defende que um acionista forte é a única forma de o Governo não interferir, impedindo-se “abusos de poder”. E também pode evitar problemas em Bruxelas.
