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A guerra declarada contra as pontas de cigarro

Campanhas de sensibilização para mudar mentalidades, ações concretas e investimento em tecnologia para encontrar soluções que promovam a sustentabilidade. É uma guerra da Tabaqueira.

Nas ruas das cidades, nas praias vigiadas ou nos campos que rasgam o interior do país, a paisagem urbana portuguesa partilha ainda um traço perturbador: a persistência de lixo e, em particular, das pontas de cigarro largadas no chão. É uma batalha antiga, tantas vezes sem grande visibilidade, mas que começa a conhecer sinais de alguma mudança. Por trás de ações discretas, campanhas ostensivas e um trabalho inevitavelmente paciente de recolha e sensibilização, a Tabaqueira surge como agente desta mudança de mentalidade.
“Temos vindo a reforçar o nosso compromisso com a sustentabilidade, colocando-a no centro da atividade, através da inovação, da proteção ambiental e da responsabilidade social”, diz Leonor Sottomayor, directora de assuntos institucionais da Tabaqueira.
No quartel-general em Albarraque, Sintra, a fábrica de referência da Philip Morris International (PMI) em Portugal pulsa com quase 1.500 trabalhadores, mais de 220 no maior IT Hub do grupo fora da sede, e serve como epicentro de uma rede que exporta 90% do que produz – mas assume um papel crescente no combate ao lixo pós-consumo em solo nacional.
A guerra das beatas ganha, porém, novos capítulos com o avanço dos cigarros eletrónicos e produtos de tabaco aquecido. “Em 2024, novos dados mostraram que os filtros dos produtos de tabaco aquecido são descartados quase cinco vezes menos do que as pontas de cigarros”, revela Sottomayor, citando parcerias com a Câmara de Lisboa e a startup Cortexia numa monitorização com inteligência artificial das áreas críticas de lixo. A diferença estatística é significativa e aponta para uma primeira – ainda que insuficiente – inflexão no padrão de descarte de resíduos por fumadores.
O caminho não se faz, contudo, só de tecnologia. O músculo financeiro e operacional do grupo serve, sobretudo, uma ideia de fundo: mudar comportamentos de raiz. “Sabemos que mudar comportamentos exige sensibilização e o envolvimento de todos”, recorda a gestora, ao destacar campanhas ambientais — desde 2008, já foram distribuídos, por exemplo, mais de 192 mil cinzeiros portáteis reutilizáveis, entre 2022 e 2024, no âmbito de “Portugal Não é um Cinzeiro”. Um esforço expandido às praias na operação “A praia não é um cinzeiro”, que já chegou a mais de 30 areais em todo o país, Açores e Madeira incluídos.
Se perguntar por resultados, Sottomayor revela comedimento: “Mediamos o impacto destas ações com base na mudança de comportamentos e na colaboração com os nossos parceiros, certos de que ainda há muito a fazer para garantir cidades mais limpas e sustentáveis.”
O tema levanta outros dilemas. Países como Singapura, onde atirar beatas para o chão é punido com mão de ferro, são muitas vezes citados como exemplos. Em Portugal, a lei também existe, mas a aplicação permanece desigual. “A lei é clara: trata-se de um comportamento inaceitável. No entanto, a sua eficácia depende da consciencialização pública e da fiscalização”, sublinha. Para a Tabaqueira, a sensibilização é imprescindível e “a mudança duradoura exige intervenções adaptadas à realidade, cultura e contexto socioeconómico de cada local.”
Exemplos inspiradores de cidadania não faltam. “O Boom Festival mostra que é possível mobilizar dezenas de milhares de pessoas em torno de práticas sustentáveis, através de uma cultura coletiva de respeito pelo ambiente e pela ação consciente.” A responsável não oculta algum encanto pelo modelo: “A mudança de comportamentos e hábitos é possível quando cada um faz a sua parte.” Por isso, festivais sustentáveis são olhados como ensaios para uma mudança mais ampla — kits de limpeza, casas de banho a compostar, energia renovável e apelos personalizados funcionam como pedagogia de massas.

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