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Porto: TAP perde 70% dos passageiros face a 2019

Resultados aquém das previsões, menos passageiros e ultrapassados pela direita pelos seus concorrentes mais diretos. Se agosto foi mau, a companhia aérea portuguesa viu o cenário ficar ainda mais negro no mês de setembro.

Um agosto mau, um setembro ainda pior. Se no melhor mês do verão, agosto, a TAP já estava a perder a face aos seus mais diretos concorrentes, a situação agravou-se em setembro. Em Lisboa, a companhia aérea portuguesa – que em 2020 e 2021 já recebeu perto de dois mil milhões de euros em ajudas de Estado – não está a transportar nem metade dos passageiros que fazia em setembro de 2019. No Porto é ainda pior: a TAP está a perder 70,1% dos passageiros face a setembro de 2019, estando prestes a ser ultrapassada, no terceiro lugar, por mais uma low-cost, a holandesa transavia.com.

Enquanto isso, a recuperação da Ryanair, da easyJet e das outras companhias está a decorrer a bom ritmo. A companhia irlandesa, liderada por Michael O´Leary, já está a transportar 83% dos passageiros em Lisboa face ao período de prépandemia, e 78% no Porto, onde é a líder destacada. Quanto à easyJet, está a perder apenas 10,8% dos passageiros no Porto e 26% em Lisboa, isto em relação a setembro de 2019.
Em termos gerais, no aeroporto de Lisboa a TAP tem a pior performance entre as onze companhias que mais passageiros transportam. No Porto é a pior performance entre as 15 primeiras.
Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, não tem dúvidas. “Está pior e vai continuar a piorar. A decisão de nacionalizar a TAP o que vai trazer mais ineficiência e mais desperdício. A TAP não vê necessidade de voar porque vai continuar a ser injetado no seu capital dinheiro público para continuar parada. E é isso que está aqui em causa”, disse ao Jornal Económico.

A TAP, considera, “não tem qualquer estímulo a voar, nem a conquistar rotas, nem a conquistar clientes”, porque o Governo continua a dizer que tudo fará para “por a mão por baixo” e aumentar as ajudas de Estado.
No Porto, relata o responsável da associação, “há voos que não partem, há voos que são suspensos, há voos de tudo… Por exemplo, um voo Genéve-Porto, a pessoa acabar por aterrar em Lisboa e depois que se arranje... Há todo o tipo de situações. Há, volto a dizer, incompetência. Falta gestão, há falta de quem mande na companhia. A TAP é uma casa a arder”.
E depois há a questão dos preços.
“Até lhe dou o meu caso pessoal. Eu para ir ao Brasil vou pela Ibéria. Vou a Madrid e depois São Paulo ou Rio de Janeiro, porque é incomportável ir pela TAP. E se eu tenho de ir do Porto para Lisboa [para seguir depois], então vou Porto-Madrid. Para mim tanto me faz... É exatamente igual, só que me fica por metade do preço”, exemplifica Nuno Botelho.
ATAP, sentencia o responsável, “é uma companhia demasiado cara devido ao rácio tripulante/passageiro. É demasiado caro e isso reflecte-se no preço”, atira.

Numa análise comparativa de preços, realizada pelo Jornal Económico, entre várias companhias aéreas com os mesmos destinos, é possível ver como a TAP é, em muitas situações, bastante mais cara que várias companhias europeias.
Uma viagem direta do aeroporto da Portela para Guarulhos, em São Paulo, na TAP custa 1.279 euros, com ida no dia 14 de novembro e vinda a dia 21 do mesmo mês. Tomando o exemplo de Nuno Botelho, uma viagem pela Iberia, diretamente de Madrid até Guarulhos custa 1.223,58 euros, enquanto a mais barata é mesmo a Air France, através do aeroporto Charles de Gaulle, onde um bilhete para as mesmas datas tem o preço fixado em 939 euros.
Mais grave é o caso do Rio de Janeiro:a opção mais barata de uma viagem com ida a 9 e regresso a 14 de novembro fica em 779 euros na Air France e 1.540, o dobro, na TAP.
Quando analisadas as ilhas nacionais, verifica-se ainda mais a da diferença na tabela de preços. Uma viagem para Ponta Delgada, nos Açores, com bagagem de mão e o bilhete mais básico, custa pouco mais de 80 euros na Ryanair. Na TAPo preço dispara para 203,73 e na SATA para 226,73 euros.
Nos voos para a Madeira a disparidade é semelhante, mas as viagens já têm um preço mais elevado. Um passageiro apenas com bagagem de mão que voe nas mesmas datas paga 152,48 euros na easyJet. Na TAP é mais do dobro:328,35 euros.
No voo de uma hora entre o Porto e Lisboa não há comparação:a TAP é a única companhia que liga diretamente as duas cidades. Ecobra quase 100 euros por bilhete, com direito levar mala de mão.

Em resposta à análise do Jornal Económico, que incluiu comparação de preços em diversas datas, rotas e companhias, a TAP disse que as diferenças de preço se devem “à lei da oferta e da procura” e considerou que uma pesquisa de preços a uma só data “não é representativa”. Ainda assim, sublinha que “se, numa determinada data, num voo com destino específico, a tarifa da TAP for superior à de outras companhias aéreas, isso significa, à partida, que o voo da TAPtem uma procura superior”. Uma explicação que não bate certo com o facto de a TAPestar a perder passageiros de forma consistente nos últimos meses face às suas concorrentes.

“A política de preços da TAP é muito competitiva e a procura e os níveis de ocupação dos voos da companhia são prova disso”, indica a TAP, sem referir essa mesma taxa de ocupação nem a taxa de cancelamento dos seus voos.
Em entrevista a um site brasileiro da especialidade, a CEOda TAP, Christine Ourmières-Widener, diz que a companhia apenas prevê recuperar a 100% a oferta internacional (face ao período pré-pandemia) no ano de 2023.
Em setembro, a TAP retomou 37 frequências semanais entre Portugal e o Brasil. Desde Outubro que esse número subiu para 53 (frequências semanais).

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