Os empresários portugueses Filipe de Botton e Alexandre Relvas são sócios de António Esteves na sociedade de private equity, Fortitude Capital, que irá lançar um fundo para investir no tecido empresarial português, apurou o Jornal Económico.
Contactados, os empresários não quiseram falar porque o Fortitude Capital Special Situations Fund ainda não está constituído. António Esteves também não comentou.
A notícia de um fundo que quer procurar oportunidades de consolidação no setor empresarial foi avançada pelo Jornal de Negócios, esta quinta-feira. O diário dizia que o fundo pretende levantar entre 250 a 500 milhões de euros e que quer investir no Novobanco e BCP de modo a promover uma operação de fusão entre os bancos. “As sinergias entre os dois bancos são perfeitas”, diz a sociedade, segundo o Negócios.
O fundo, que ainda não está registado na CMVM, terá como finalidade investir em ativos depreciados. No entanto, não estão ainda definidos alvos concretos de investimento, apurou o JE, porque o fundo ainda está numa fase muito embrionária. Fontes do mercado financeiro falam do possível investimento em imobiliário e em carteiras de malparado (NPL) de bancos, nomedadamente do Novo Banco e BCP. As mesmas fontes acreditam que o setor financeiro não será especificamente o foco da sociedade gestora, mas sim todo o sector empresarial português.
O primeiro fundo que a sociedade quer lançar, e que explica a apresentação a potenciais investidores, tem como objetivo levantar um total de 500 milhões de euros. Este valor é obviamente insuficiente para comprar o BCP ou o Novo Banco, mas o Fortitude pode vir a ser um acionista de referência no cotado BCP, por exemplo, e desta forma tornar-se um player a ter em conta numa futura e hipotética fusão dos dois bancos – o banco da Lone Star e o Millennium BCP. O Negócios dizia, aliás, que “a Fortitude pode liderar uma solução de players locais” para criar um banco privado de grande dimensão.
O diário revelou que a Fortitude Capital foi constituída há dois meses (em setembro) e prepara-se para lançar um fundo de investimento que irá investir em ativos depreciados devido à pandemia.
Filipe de Botton e Alexandre Relvas, investidores da Fortitude, são também sócios da Logoplaste, atualmente com 40% (depois da venda de 60% da empresa a um fundo de pensões canadiano).
Os dois empresários estão também juntos no consórcio de investidores nacionais, liderado João Brion Sanches, que em parceria com o fundo Arrow Global chegou a um acordo com a Lone Star para a compra do empreendimento Vilamoura World, no Algarve.
A gestora de fundos de private equity Fortitude tem um conselho de administrção liderado por António Esteves. No board está ainda João Carlos Fonseca e Mário Vigário (da Atrium Investimentos).
O Conselho Fiscal tem Maria Luís Marçal, António Vieira de Almeida, João Pereira de Vasconcelos e Pedro Santa Clara (da Nova SBE).
A tentativa de compra de ativos depreciados dos bancos portugueses não nasceu hoje. Em 2017 António Esteves liderava um consórcio que fez um proposta ao Governo e ao Banco de Portugal de 15 mil milhões de euros para a aquisição de ativos problemáticos no balanço dos bancos portugueses.
António Esteves liderava assim uma solução que tinha como objetivo limpar o crédito malparado do sistema financeiro, mas com especial enfoque no Novobanco e BCP (bancos que há data tinham um problema maior de malparado).
A proposta foi na altura desenhada com o apoio da consultora Deloitte e do escritório de advogados Vieira de Almeida.
A operação, que nunca passou do papel, passava pela compra do malparado aos bancos pelo valor do balanço, evitando que registassem perdas (que consomem capital) e assim não tivessem de ser recapitalizados. Segundo notícias dos jornais da altura, a solução exigia uma garantia pública sobre títulos a serem emitidos em mercado, o que poderia passar pelo crivo europeu das ajudas de Estado.
António Esteves tem uma vasta experiência no setor financeiro. O atual gestor da consultora Anttonord Partners e da sociedade imobiliária Multiberva, trabalhou em vários bancos internacionais e foi partner do banco Goldman Sachs até 2016.
Recorde-se que o banco norte-americano perdeu uma ação contra o Banco de Portugal que aplicou uma medida de resolução ao Banco Espírito Santo em agosto de 2014, um mês depois de o banco norte-americano ter, através de um veículo, a Oak Finance Luxembourg, celebrado com o BES um “facility agreement” (contrato de financiamento) nos termos do qual emprestou cerca de 835 milhões de dólares ao BES. Valor que ficou perdido com a Resolução a 3 de agosto desse ano.