Há três anos a ARBORIS desenvolveu um estudo com a participação de dezenas de Presidentes dos maiores grupos familiares nacionais. Os resultados foram alarmantes: quase dois terços não comunica com a NextGen sobre carreiras ou sucessão e quase três quartos não têm processo de sucessão definido – porque não têm nenhum interesse, não sabem como fazer ou receiam fazer mal. E muitos sucessores potenciais optam por sair do País em busca de novas experiências de vida e carreiras mais aliciantes.
Não obstante, o estudo mostra que há líderes de empresas familiares que trabalham intensamente a sucessão quase desde a infância da geração seguinte. E isso conduziu no passado recente a uma geração de líderes muito bem preparados como Paula Amorim, António Rios Amorim, Salvador e João de Mello, Pedro Soares dos Santos ou Cláudia Azevedo, criando uma cultura virtuosa de reter e forjar grandes jovens líderes na geração seguinte.
A ARBORIS convidou seis destes jovens líderes para transmitir, nas suas próprias palavras, porque aceitaram o desafio de ficar, suceder ao líder e garantir a preservação do legado da Família. Todos acederam ao convite: Tomás Jervell, Carlos Mota Santos, António Portela, Jorge de Mello, Ricardo Alves e Martim Guedes. Partilhamos os seus testemunhos em ordem aleatória para preservar o anonimato.
A. “As coisas aconteceram de forma natural, sem uma estratégia deliberada (ou partilhada…) ou um objetivo pré-definido. A ambição, as circunstâncias da empresa à data e a paixão pelo negócio familiar ditaram uma ligação com tal profundidade que nunca verdadeiramente abriram espaço a cenários profissionais alternativos”.
B. “O Grupo sempre me estimulou e tive a ambição de o vir a liderar, muito pelo desafio de entregar à geração dos nossos filhos uma empresa melhor do que aquela que recebemos, porque foi assim que a geração anterior à nossa fez. Isso é o grande desafio, é estar à altura do legado que temos e fortalecê-lo no negócio e na família.”
C. “Optei por suceder ao meu pai porque cresci dentro da empresa e acompanhei de perto o seu desenvolvimento. Esse percurso criou em mim um forte sentido de responsabilidade e um desejo de reforçar os laços familiares que sempre estiveram na base do projeto. Importa sublinhar que esta sucessão não foi forçada; foi uma escolha ponderada da administração, que entendeu que eu reunia as condições para dar continuidade ao legado da família. Por isso, apesar de me atrair a ideia de uma carreira internacional, fez-me mais sentido abraçar este desafio e contribuir para o futuro da empresa a partir de dentro.”
D. “Apesar de ter começado a carreira fora de Portugal e de ter tido oportunidade de a continuar a desenvolver, na minha cabeça esteve sempre presente ingressar na empresa da família. Estar fora permitiu-me conhecer o setor e perceber que o apreciava muito mas encarei sempre a participação na empresa da família com perfeita naturalidade. É como se fizesse parte de mim. Tenho um respeito enorme pelo que os meus antepassados construíram, nomeadamente a transformação que o meu Pai imprimiu à empresa. Mas também pelas pessoas que trabalham connosco para melhor servir os (nossos stakeholders) em vários pontos do globo.”
E. (...) comecei a carreira na banca de investimento, setor de que gostei muito e me proporcionou uma grande aprendizagem e desafio intelectual. (...) O desafio da empresa familiar foi-se tornando cada vez mais interessante e despertando a minha curiosidade. O meu Pai foi-me expondo aos vários desafios da empresa e percebi que podia ser muito interessante juntar-me à empresa da família, para mais num setor (...) muito rico e diverso ao nível dos vários desafios que proporciona e que exige uma grande capacidade relacional e de comunicação, mas também visão estratégica (...) Sendo uma empresa familiar, há também o desafio de crescer o negócio sem perder o cariz familiar e a proximidade com os colaboradores, clientes e restantes stakeholders”.
F. “O facto de poder continuar o legado da família, preservando e desenvolvendo tudo o que tinha sido construído, pareceu-me o maior desafio que podia ter e aquele que maior satisfação pessoal e profissional me poderia dar”
Porque escolheram ficar e continuar o legado
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A sucessão em grupos familiares determina a sua sobrevivência, mas, ao mesmo tempo, fascina-nos porque mexe com uma dinastia e com o poderoso imaginário social associado – como numa monarquia quando é escolhido um novo rei ou uma nova rainha. Os maiores monarcas da História sabiam que criar riqueza ou conquistar território de nada valia sem um filho varão capaz de reforçar o legado da casa real – e foram sempre uma inspiração para empresas familiares.