Skip to main content

À espera do corte de juros

Bolsas americanas e europeias regressam aos ganhos, recuperando das perdas das últimas semanas e aproximando-se novamente de máximos.

Os mercados acionistas globais subiram, sustentados pela antecipação de um corte de juros pela Reserva Federal dos Estados Unidos da América (EUA) já na próxima reunião do dia 10 de dezembro, o que manteve o dólar mais fraco naquela que foi a sua maior queda semanal em quatro meses. Também o iene tem estado em destaque, sob atenção apertada do Banco do Japão, que poderá intervir para travar a desvalorização excessiva da moeda, já muito perto da fasquia psicológica de 160 ienes para um dólar, que tem agravado a inflação importada num país altamente dependente de energia. Este risco de intervenção torna-se ainda maior num contexto de tensões geopolíticas crescentes entre Japão e China, desde a disputa territorial nas ilhas Senkaku até à pressão militar chinesa no estreito de Taiwan, o que reforça a necessidade de estabilidade cambial para Tóquio.
A semana foi mais tranquila devido ao feriado de Ação de Graças nos EUA, mas pautada pelo sentimento positivo. Na Europa, o Stoxx 600 ganhou mais de 2%, suportado sobretudo pelos setores tecnológico e de defesa, numa altura em que as preocupações com o excesso de investimento em inteligência artificial perderam força e deixaram de pressionar as ações. O sentimento dos investidores também melhorou após novos indicadores da inflação norte-americana terem reforçado a perceção de que a Fed poderá manter o atual ciclo de descidas nos próximos meses. Na Europa, o discurso mais dovish de responsáveis do Banco Central Europeu também ajudou a sustentar a procura por ativos de risco.
A valorização dos mercados acionistas foi acompanhada por uma descida das yields das obrigações soberanas e por um alívio na volatilidade, com o VIX, o índice que mede a volatilidade dos mercados, a recuar para níveis próximos dos registados no início do mês. Os setores tecnológico, industrial e financeiro lideraram os ganhos, enquanto a energia registou uma performance mais discreta, ditada por ligeira queda nos preços do petróleo.
Os pedidos iniciais de subsídio de desemprego nos EUA caíram para 216 mil, o valor mais baixo dos últimos sete meses e abaixo das previsões do mercado. Este recuo confirma que as empresas norte-americanas não estão a despedir, mas também não estão a contratar, tal como corroborado pelo relatório de emprego de setembro, no qual a taxa de desemprego subiu para 4,4%, o nível mais elevado desde outubro de 2021, após o mínimo de 3,4% registado em abril de 2023 — valor que igualou mínimos do final da década de 1960.
Entretanto, os pedidos contínuos aumentaram para 1,96 milhões, mantendo-se acima dos 1,9 milhões e próximos do valor mais elevado desde 2021, o que está em linha com o atual nível da taxa de desemprego. Este aumento reflete um abrandamento na contratação, dado que os pedidos contínuos funcionam como indicador da capacidade das empresas para reintegrar trabalhadores. Assim, apesar de poucas pessoas estarem a perder o emprego, mais trabalhadores permanecem desempregados durante mais tempo, evidenciando uma folga crescente no mercado laboral (growing slack). Este quadro pode dar mais margem à Fed para mais uma descida das taxas de juro na próxima reunião, tendo em conta o seu mandato triplo — estabilidade de preços, pleno emprego e taxas de juro de longo prazo moderadas — ao contrário do BCE, cujo mandato se rege exclusivamente pela estabilidade de preços.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes, faça login ou subscreva o Jornal Económico