Manoel de Oliveira adorava a velocidade. Mas preferia ver com calma. Como se observava nos seus filmes. E se aprecia agora, na sua fotografia. Afinal ele foi, ao longo da sua vertiginosa vida, alguém que soube adaptar-se a diferentes mundos sem nunca perder a sua essência. Iniciou-se no cinema medo e acabou a carreira no universo do digital. Na vida real foi cineasta, atleta, acrobata, piloto de automóveis, galã e também piloto de aviões. Mas, se o cinema ocupou a imagem que temos dele, há um outro espaço onde se moveu de forma aliciante, o da fotografia.
“Manoel de Oliveira, fotógrafo” é o título simples de uma exposição que se pode e deve ver na Fundação Gulbenkian (até 17 de Janeiro), onde 120 fotografias mostram o caleidoscópio de escolhas que prendiam o seu olhar (o Porto, as paisagens do Douro vinhateiro, o circo e a aviação como espaços de movimento constante), que fazem parte do acervo que está depositado na Casa de Cinema Manoel de Oliveira em Serralves. Há um espaço temporal para elas (entre a década de 1930 e a de 1950) e o facto de serem a preto e branco ainda lhes garante mais força, como uma luz que mostra a curiosidade de Oliveira.
Esta paixão iniciou-se em finais dos anos 30, quando Manoel já rodara “Douro, Faina Fluvial” e estava a pensar em “Aniki-Bobó”. É um espaço de mais de uma década sem filmar, após a frouxa recepção a este filme. Mas não parou. A sua câmara Leica ia guardando imagens soltas, que o poderiam recentrar. Isso aconteceria já em 1956 com um filme a cores, “O Pintor e a Cidade”. As fotos, nalguns casos, teriam sido tiradas a pensar em filmes que nunca realizaria e fazem parte de um acervo de milhares. Uma descoberta aliciante.