O diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), Óscar Afonso, considera que o Orçamento “foi pensado para o curto prazo e não resolve o longo prazo”. Durante a conferência do Jornal Económico e da EY dedicada ao Orçamento do Estado, o economista considerou a meta de saldo orçamental do Governo, de 0,1%, como “muito frágil”, porque “depende de previsões otimistas” e, nesse sentido, “parece que foram desenhadas para gerar este excedente orçamental”.
O Orçamento do Estado depende ainda “da ausência de novas medidas no Parlamento, que podem colocar em causa estes 0,1%”, sublinha Óscar Afonso. É um orçamento “de fim de festa”, revelador de “um dilema da consolidação sem crescimento e sem reforma do Estado”, defende o diretor da FEP, considerando que, se não houver reformas, “não há margem financeira para benesses”.
Embora o documento apresente “contas equilibradas”, o que Óscar Afonso elogia, o economista avisa que, “sem reformas estruturais, o equilíbrio acabará por ser ilusório”, porque “vivemos numa estagnação prolongada que, sem mais, permanecerá mascarada por efeitos temporários”.
Óscar Afonso entende que o desempenho recente da economia portuguesa tem dependido da ajuda do PRR e do turismo, notando mesmo que “temos andado a beneficiar da guerra da Ucrânia, porque o turismo se desvia mais para sul”. Alerta, por isso, que “passado o efeito temporário, regressamos à trajetória de crescer 1 por cento ao ano”.
Imigração? Economia devia estar a crescer mais
Óscar Afonso considera que o atual ritmo de crescimento da economia portuguesa não reflete o forte aumento da imigração. Com 1 milhão e 600 mil imigrantes, “a taxa de crescimento devia ser muito superior a 3%”, afirma. “Com a entrada de 168 mil por ano, até devia ser mais do que os 3,5%. Mas a taxa de crescimento tem rondado os 1,1%.” “Leva-me a crer que muitos imigrantes estão na economia informal”, diz o economista.
Óscar Afonso defende que o país precisa de metas mais ambiciosas: “Se Portugal quiser entrar na primeira metade do PIB per capita da União Europeia, devia crescer 1,4 pontos percentuais acima da UE até 2033.”
Nesse sentido, “se a média da UE ficar em 1%, Portugal teria de crescer 2,4% por ano”, calcula. “Se quisermos 2,4%, com esse desígnio de entrarmos na parte de cima do nível de vida europeia, devíamos ter um fluxo de imigrantes de 80 mil por ano”.