O BCP atingiu esta quinta-feira o valor em bolsa de 12,32 mil milhões de euros, tendo o preço das ações fechado em 0,82 euros, depois de subir 1,28% face ao fecho do dia anterior.
Porque é que isto é relevante? Porque o BCP não atingia este valor em bolsa desde o auge da guerra de poder pela sucessão, em 2007. Portanto há 18 anos que o BCP não valia tanto.
Em agosto de 2007, quando Paulo Teixeira Pinto era Presidente do BCP, a capitalização bolsista (valor das ações em bolsa vezes o número de ações) atingiu os 12,4 mil milhões de euros, Nesse ano, marcado por assembleias gerais conflituosas e muito mediatizadas, o BCP chegou a valer em bolsa 17,8 mil milhões de euros. Também não era nada de estranhar já que o chamado “grupo dos sete” – Manuel Fino, Bernardo Moniz da Maia, Vasco Pessanha, Joe Berardo, João Pereira Coutinho, Filipe de Botton e Diogo Vaz Guedes – que apoiou o CEO Paulo Teixeira Pinto contra o fundador e histórico presidente do banco, Jorge Jardim Gonçalves estavam a reforçar a posição acionista (com recurso ao crédito de bancos como a CGD e o BES) para ter poder de voto nas Assembleias Gerais.
Nesse ano, e por causa da “guerra de sucessão” no BCP, o valor de mercado do banco acabou por fechar nos 10,5 mil milhões.
Os 10 mil milhões de euros de market cap é uma marca emblemática no BCP já que foi meta ambicionada por Jorge Jardim Gonçalves, fundador e histórico presidente do banco.
No fim do ano passado o BCP fechou com um valor de mercado abaixo dos 10 mil milhões de euros.
Em agosto de 2007 a cotação do BCP era de 3,43 euros (valor ajustado a aumentos de capital posteriores). Nesse a cotação máxima do BCP foi de 4,3 euros, atingida a 26 de Junho.
Apesar de o valor de bolsa em novembro de 2025 ser equivalente ao mesmo valor do BCP em agosto de 2007, a cotação das ações era bem diferente. O que se explica porque o banco fez um grande número de stock splits e reverse stocks splits ao longo do tempo, com cada um deles tendo como objetivo influenciar o valor unitário da ação.
O banco fez uma longa travessia do deserto desde que em 2007 estoirou a guerra de poder pelo controlo do banco após a sucessão de Jardim Gonçalves. Uma crise que se reflectiu nos anos seguintes na queda das ações do banco, tendo mesmo chegado ao nível de penny stocks.
A História do que aconteceu ao BCP em 2007 é uma história que começou por uma aliança entre amigos, onde a palavra de ordem era recorrer a todos os meios para tirar o BCP das garras do fundador e dos seus administradores (os mais velhos). A sociedade portuguesa facilmente se rendeu aos encantos dos meninos bonitos de 50 anos (mais coisa menos coisa) que iam tomar conta do banco (ou que iam advogar essa demárche). A guerra de poder foi vendida como um conflito geracional e um desígnio nacional e acabou por ser um jogo de poder que fez xeque-mate à equipa de Jardim Gonçalves e de Filipe Pinhal. Tudo isto acontece numa altura em que nos Estados Unidos começava a estoirar a crise do subprime, que tem o epicentro na falência do Lehman Brothers. Mas os acionistas e os administradores do BCP e os stakeholders que os apoiavam na guerra de poder nem se aperceberam que vinha aí uma hecatombe. O valor da ação do BCP caiu significativamente em 2008, refletindo a instabilidade do mercado financeiro global. O banco reportou um resultado líquido negativo de 201,2 milhões de euros nesse ano.
BCP atinge valor de mercado de 2007
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O BCP vale em bolsa 12,32 mil milhões de euros. A última vez que tinha atingido esse valor de capitalização bolsista foi há 18 anos, no auge da guerra de poder, em que a procura de ações era alimentada pela cobiça.