Depois de um verão marcado pela multiplicação de reclamações contra o Serviço Nacional de Saúde, o Governo de António Costa entregou no Parlamento uma proposta de Orçamento do Estado para 2023 que prevê o reforço das verbas para esse fim, com vista a melhorar a oferta e a qualidade dos serviços prestados aos portugueses, mas também de modo a promover a satisfação dos profissionais.
No conjunto, o Executivo estima que a despesa total com a saúde irá subir quase 8% no próximo ano, face à execução prevista para 2022.
“Os recursos do SNS têm sido sucessivamente reforçados pelo Governo, por forma a garantir uma capacidade de resposta efetiva aos cidadãos”, começa por destacar, apesar das críticas recentes, o relatório entregue pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, na Assembleia da República. E concretiza: até agosto, as consultas médicas presenciais realizadas nos cuidados de saúde primário, por exemplo, cresceram 23,1%, face a 2021, não tendo ainda, contudo, chegado aos níveis pré-pandemia. Já as consultas hospitalares chegaram ao valor “mais elevado dos últimos anos”, crescendo 3,3% face ao período homólogo, e o mesmo foi verificado ao nível das intervenções cirúrgicas programadas, que subiram 8,8%, face ao ano passado.
Para 2023, o Governo compromete-se a continuar a reforçar o orçamento do SNS, o que passará pela qualificação da despesa e pela redução da despesa, num “conjunto alargado de medidas” que visam a “melhoria da oferta e da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, mas também da satisfação dos profissionais com o trabalho no SNS”. E atira o Executivo: “a entrada em atividade da Direção Executiva do SNS contribuirá também para melhorar o funcionamento e a eficiência do SNS.” Prova desse reforço, é defendido, será também a subida das transferências do Orçamento do Estado para o Serviço Nacional de Saúde, que ultrapassarão a marca dos 12,2 mil milhões de euros no próximo ano. Em contraste, este ano nem chegaram à fasquia dos 11,2 mil milhões de euros.
Os grandes pilares do SNS em 2023
A atividade do próximo ano terá, pois, como grandes pilares a promoção da saúde e a prevenção da doença, através, por exemplo, da intervenção das farmácias comunitárias, “em especial no seu papel de estruturas de proximidade”, mas também a melhoria do acesso à saúde, estimulando nomeadamente o uso das ferramentas digitais (nomeadamente teleconsultas), e o reforço da cobertura dos cuidados de saúde primários.
Além disso, estará em destaque a promoção da eficiência dos hospitais públicos – com, por exemplo, a implementação do regime de trabalho em dedicação plena, como previsto no Estatuto do SNS –, a conclusão da reforma da saúde mental, o alargamento dos cuidados continuados integrados e paliativos, o reforço da política de recursos humanos, a modernização dos equipamentos e infraestruturas, o acesso à inovação e a transição digital.
Saúde com mais despesa
No conjunto, o Governo vê a despesa da saúde crescer de modo significativo (mais do que a inflação, por exemplo) no próximo ano, indica a proposta de Orçamento do Estado. “O Programa Orçamental da Saúde evidencia, no orçamento de 2023, uma dotação de despesa total consolidada de 14.858 milhões de euros, sendo superior em 7,8% à execução estimada até final de 2022, e uma despesa efetiva consolidada de 14.804,8 milhões de euros”, é explicado.
Em maior detalhe, a despesa com pessoal deverá crescer 3,7% face a 2022, atingindo os 13.822,9 milhões de euros, enquanto a despesa com aquisição de bens e equipamentos irá subir 2,9% para 5.474,7 milhões de euros. O Governo realça, além disso, que a despesa financiada por receitas de impostos deverá totalizar, no próximo ano, cerca de 12.349,8 milhões de euros, dos quais 12.207,5 milhões respeitam a financiamento para o Serviço Nacional de Saúde. “O financiamento por receitas de impostos contempla ainda, entre outros, o valor de impostos consignados, orçamentado no montante de 89,6 milhões de euros”, lê-se no relatório conhecido esta semana.
Já do lado da receita total consolidada, aponta-se para um total de 14.858,5 milhões, ou seja, espera-se uma subida de 4% em 2023 face ao previsto para este ano.
Quanto ao investimento, o relatório entregue no Parlamento dá conta de que este terá um peso de 6,2% no total do orçamento, destacando-se as entidades do SNS, cujo orçamento é de 762,9 milhões de euros.
“Face ao orçamento inicial de 2022 financiado por receitas de impostos, o orçamento de 2023 aumenta 1.177 milhões de euros (10,5%)”, salienta ainda o Executivo de António Costa, no documento que será debatido na generalidade a 26 e 27 de outubro.
Convém enfatizar, porém, que o valor da descentralização não consta destes cálculos apresentados ao Parlamento, uma vez que se encontra previsto no Fundo de Financiamento da Descentralização, integrado no Programa Órgãos de Soberania.
SNS com mais verbas para melhorar oferta e qualidade
As transferências do Orçamento do Estado para o Serviço Nacional de Saúde vão voltar a subir em 2023. O objetivo? Reforçar a resposta aos cidadãos, mas também promover a satisfação dos profissionais, sublinha o Governo.
