Um tema ausente do debate eleitoral
O Benfica entra em novo ciclo eleitoral este sábado. Fala-se muito do passado de cada candidato e pouco do projecto para o futuro.
E dentro desse projecto, a atenção concentra-se quase toda no associativismo e na gestão quotidiana, deixando em segundo plano aquilo que verdadeiramente sustentará o futuro do clube: a sua estrutura e estratégia financeira.
O futebol moderno é, antes de tudo, um exercício de gestão.
Nenhum projecto desportivo de topo sobrevive sem uma base económica sólida. Os clubes que dominam a Europa — do Real Madrid ao Manchester City, passando pelo Bayern de Munique — construíram o seu sucesso desportivo sobre modelos financeiros estáveis, diversificados e profissionalizados.
O Benfica, pelo contrário, vive nos últimos anos numa montanha-russa de lucros e prejuízos, dependente de vendas extraordinárias de jogadores para equilibrar as contas.
A anatomia de um modelo desequilibrado
A análise económico-financeira da Benfica SAD mostra que, por detrás dos 34 milhões de euros de lucro e das receitas recorde de 230 milhões em 2024/25, pouco mudou na essência do modelo.
O resultado positivo não nasceu de uma gestão mais eficiente, mas de dois factores excepcionais: a participação no Mundial de Clubes, que rendeu 22,5 milhões (17,1 milhões líquidos), e a venda de João Neves, o maior talento da formação, por quase 60 milhões de euros.
Se olharmos para o médio prazo, a fotografia é bem menos favorável. Em quatro anos, o Benfica acumulou 80 milhões de euros de prejuízos, duplicou a dívida líquida para cerca de 200 milhões e viu o seu capital próprio cair para metade.
O resultado é um modelo estruturalmente desequilibrado, onde o crescimento dos custos supera largamente a capacidade de geração de receitas.
Está o Benfica - e o futebol português - financeiramente preparado para o futuro?
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Às vésperas das eleições, o debate no Benfica continua centrado no imediato. Mas o verdadeiro desafio é estrutural: sem uma base financeira sólida e sustentável, o sucesso desportivo será sempre intermitente — e a distância para a elite europeia continuará a aumentar.