O ano de 1968 foi marcado na Europa pelos protestos em maio em Paris e em toda a França contra o poder de Charles de Gaulle e George Pompidou, e pela Primavera de Praga que acabaria por ser brutalmente esmagada pela URSS. Ali ao lado, um evento marcou o início da política energética russa e europeia durante décadas: a Rússia de Leonid Brezhnev começou a fornecer gás à Europa ocidental, começando pela Áustria. Na década de 80, a Rússia dobrou o seu fornecimento de gás à Europa ocidental durante as políticas reformistas de Glasnost e da Perestroika de Mikhail Gorbachev. Vladimir Putin limitou-se a aprimorar esta política energética.
Passados 60 anos deste momento, a 1 de janeiro de 2028, seis anos depois da invasão da Ucrânia, a União Europeia proíbe a importação total de gás da Rússia. Finalmente, dirão muitos. Foi na altura certa, dirão outros, pois a Europa agora está preparada para o fecho da torneira. Desde a invasão da Ucrânia que quase 7% das exportações de gás natural líquido (GNL) em Portugal corresponde a gás vindo da Rússia.
Os dados deste ano demonstram que a Nigéria é o maior fornecedor de Portugal com mais de 50% do GNL fornecido a Portugal até agosto. Seguem-se os EUA com 37%, Espanha com 10% e a Rússia com mais de 6%.
“Não precisamos do gás da Rússia”, disse ao JE a ministra do Ambiente e da Energia Maria da Graça Carvalho. “Não afeta a nossa independência nem o nosso mix energético e estamos perfeitamente tranquilos em deixar de importar o gás russo”.
Os carregamentos de gás russo que chegam a Sines pertencem à energética espanhola Naturgy, que em 2018 assinou um contrato por mais de 20 anos com a gasista russa Yamal LNG. O JE pediu uma reação à Naturgy, mas não obteve resposta.
O GNL russo não estava sujeito a sanções até agora, mas tudo irá mudar a partir de 1 de janeiro de 2026, altura em que começam as restrições: a 17 de junho de 2026, acaba a moratória para os contratos de curto prazo, com contratos de longo prazo a terminarem a 1 de janeiro de 2028.
“Estamos a diminuir a nossa dependência do gás porque temos diversificado as fontes de energia: temos renováveis de várias fontes, hídrica, solar, eólica, biomassa. Importamos gás, mas depois também importamos de vários sítios. Temos uma diversidade que nos torna completamente independentes da Rússia”, defendeu Maria da Graça Carvalho.
A nível europeu, a dependência face à Rússia caiu dos 40% em 2021 para 11% em 2024, no caso do abastecimento por gasoduto. Juntando pipelines com GNL, a Rússia abasteceu menos de 19% das importações da UE em 2024 Esta redução foi atingida com base num “grande aumento das importações de GNL e numa redução geral de consumo de gás na UE”, segundo a Comissão Europeia.
A Noruega foi o maior fornecedor de gás à UE em 2024, com mais de 33% das importações, seguida dos EUA (16%), Argélia (14%), Qatar, Azerbeijão ou Reino Unido (cada com 4%). O gás russo via pipeline pesou 12% do total, com o GNL russo a pesar 7%.
“Mais importante do que proibir, a prioridade europeia devia ser minimizar a necessidade deste gás ou de qualquer gás. Vamos criar as condições para acabar com a compra: acelerar energias renováveis. Devíamos centrar todas as baterias aí. Se o fizermos, não precisamos de proibir porque simplesmente vamos deixar de precisar”, comentou João Galamba, ex-secretário de Estado da Energia.
‘Dasvidaniya’! Portugal prepara último adeus ao gás russo
/
A curta relação da lusitânia com o gás russo aproxima-se do fim, com novas sanções. Foi uma relação marcada por uma grande distância: Portugal sempre privilegiou África e a América.