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Alemães de olho na Galp para refinaria de lítio

AMG diz que Galp seria “interessante” como parceira. Alemães abriram a primeira refinaria de hidróxido de lítio na Europa. É o maior acionista da Savannah, com mina em Boticas.

Tempo é dinheiro. Mas no setor mineiro não basta dinheiro para os projetos, é preciso muito tempo e muita paciência até que um projeto veja a luz do dia. As minas demoram anos a serem licenciadas pelas autoridades, assim como os projetos industriais da fileira.
Os alemães da AMG Lithium têm uma vantagem face a outros atores europeus do setor: planearam e fizeram mesmo os projetos. Há um ano, abriu a primeira refinaria europeia de hidróxido de lítio. Também produz lítio no Brasil para enviar para a Europa.
Agora, estão interessados em abrir uma refinaria de lítio em Portugal e consideram que a Galp seria um bom parceiro para o projeto. “A Galp seria uma empresa interessante”, disse ao Jornal Económico Stefan Scherer, presidente-executivo da empresa, admitindo interesse em falar com a companhia portuguesa sobre este tema. “Seria interessante para Portugal”.
Uma refinaria de lítio pode custar entre 500 milhões a mil milhões de euros, na sua estimativa, dependendo da capacidade de produção.
“Portugal é um país central nos nossos planos, podemos vir a construir uma refinaria aqui para produzir lítio para baterias”, disse o gestor em entrevista ao JE. No entanto, é crucial ter a bordo um parceiro forte. “Somos uma empresa pequena. Temos de ser humildes no que fazemos devido ao cash flow e dívida. Estamos à procura de um forte parceiro industrial, pessoas com dinheiro. Mas as empresas grandes são lentas a decidir”.
No final de 2024, a Galp anunciou o cancelamento do projeto Aurora, a refinaria de lítio de Setúbal, projeto desenvolvido com os suecos da Northvolt, que faliram. O projeto tinha um custo estimado de 1.100-1.300 milhões de euros.
A AMG é o maior acionista da mineira britânica Savannah, que detém o projeto de lítio em Boticas, com mais de 15%.
Para já, existe um acordo para comprar 45 quilotoneladas de espodumena de lítio por ano (25% da produção total estimada), durante cinco anos e com base nos preços de mercado a cada momento.
Mas os alemães admitem ir mais além no acordo em Boticas. “Esta é a nossa meta, vamos ver. Ainda há um longo caminho. Estamos a falar de três anos [até à produção]. Mas quanto ao resto, honestamente, porque é que não nos vendem a nós?”, segundo Stefan Scherer.
A AMG considera que até 2030 terá visibilidade sobre o projeto em Portugal. “Seja o que for que construirmos [em termos de capacidade], precisamos de garantir que está apoiado em recurso. Pode ser a Savannah, ou pode vir do Brasil”.
A AMG também chegou a acordo com o Grupo Lagoa que também tem uma mina de lítio em Ribeira de Pena, distrito de Vila Real. A ideia é construir um concentrador nesta mina, isto é, que serve para partir a pedra e extrair minerais, através de processos magnéticos ou flutuação. O projeto vale entre 10 a 15 milhões de euros para arrancar em 2026.
O grupo sediado em Pombal extrai e comercializa matérias-primas para a indústria cerâmica e vidreira, como feldspato.
“Foi bom falar com os irmãos Lagoa. É um negócio de família. Nós procuramos lítio e eles ficam com o feldspato para aumentarem as vendas. É essa a ideia.”, segundo o gestor.
“A Savannah está a fazer o seu grande projeto, o que é ótimo. Mas decidimos avançar com a Lagoa neste piloto para depois vendermos o nosso concentrado de espumodena para vender a produtores de vidro e de cerâmica”, acrescentou na entrevista à margem da conferência Fast Markets, em Lisboa.
O preço do carbonato de lítio negociado na China já caiu 4% este ano. Mas anda longe dos máximos atingidos em novembro de 2022: quase 600 mil yuans por tonelada (71,7 mil euros). Atualmente, negoceia abaixo dos 8,8 mil euros (73,5 mil yuans).
Uma questão central no setor do lítio neste momento é o preço nos mercados. O executivo alemão, químico de formação, acredita que os preços vão voltar a subir: “Só não me perguntem é quando. Ninguém está a colocar dinheiro em recursos. Todos estão a lutar para encontrar financiamento. As minas não se desenvolvem, não há capacidade de refinação. Penso que vamos estar sozinhos nos próximos 3 a 5 anos”, admitindo que o projeto finlandês Keliber, que inclui uma mina, concentrador e refinaria, seja o único a vir rivalizar com a refinaria alemã da AMG nos próximos anos.
Sobre a queda da Northvolt disse que “talvez fosse mais um desejo político naquela altura. Quando cheguei aqui há uns anos, havia planos para um projeto português de construir baterias, o que é a parte mais complicada. Portugal teve muita sorte pelo que aconteceu à Northvolt, porque seria essa a situação agora se Portugal tivesse feito o mesmo”.

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