Osentimento do mercado acionista é atualmente muito positivo, suportado sobretudo pelas notícias sobre inteligência artificial e pelo impulso das tecnológicas relacionadas com o tema. Foi uma semana de máximos históricos para a maioria dos índices acionistas, dos norte-americanos ao Reino Unido e ao DAX alemão.
Os índices são nominais e a elevada liquidez ainda visível nos mercados resulta não só da expansão dos balanços dos bancos centrais, sobretudo da Reserva Fed dos EUA, mas também da própria valorização dos índices acionistas. Num círculo virtuoso, o efeito riqueza gerado acaba por contagiar, impulsionar, suportar e garantir mais investimento em IA, mas se terá retorno, isso já é mais difícil de saber.
A IA seguirá o seu percurso, à semelhança de outras tecnologias no passado, e estará cada vez mais presente no nosso quotidiano, e a sua democratização e massificação é questão de tempo, agora se irá gerar retornos suficientes para compensar os atuais investimentos avultados é outra questão, sabendo-se, certamente, que a tecnologia é deflacionista.
Há muito tempo que não se via uma euforia positiva tão forte nos mercados acionistas. Nem os dados do mercado de trabalho e da inflação de agosto, divulgados na primeira metade de setembro, nem a última reunião da Fed travaram os máximos históricos consecutivos do mercado acionista em setembro — mês habitualmente desfavorável e, em média, o de pior desempenho do ano —, ainda por cima após uma valorização das ações de mais de 70% desde os mínimos de meados de abril, então num contexto de forte pessimismo. O mercado é isto mesmo, um sobe e desce entre euforia e pânico. Mas, no longo prazo, sobe mais do que desce, porque os índices são nominais e, à medida que a moeda em circulação e a massa monetária aumentam — além dos ganhos de produtividade e do crescimento real —, os índices, reflexo da própria economia, tendem a acompanhar o crescimento do PIB nominal da sua economia ou, no caso de economias hegemónicas como os EUA, o do PIB nominal global.
Apesar da euforia nos mercados acionistas, o ouro — o ativo típico de aversão ao risco e refúgio — não para de subir e regista também máximos históricos consecutivos, já muito perto dos 4 mil dólares por onça. Ou seja, não é tanto o metal amarelo que valoriza, mas as moedas fiduciárias que perdem valor. Se o S&P 500, medido em pontos que refletem cotações de ações das empresas americanas em dólares, fosse expresso em ouro, o seu desempenho seria muito inferior. Ou melhor, seria mesmo negativo, pois o S&P 500 valoriza 14% em dólares desde o início do ano, mas o ouro sobe quase 50%, de 2600 para quase 3900 dólares por onça.
O S&P 500 fechou 2024 nos 5881 pontos, e, aos preços atuais do ouro, corresponderia a quase 9000 pontos, ou seja, se cotado em ouro, o S&P 500 perde mais de 20% em 2025.
Este movimento de forte valorização do ouro é impulsionado pelo novo paradigma de compras por parte de grandes economias emergentes, como a China, para diversificar reservas e evitar o risco de congelamento de ativos ocidentais — sobretudo dólares —, como aconteceu à Rússia quando invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. As expectativas de descidas das taxas da Fed também favorecem o ouro, pois, não gerando qualquer rendimento, apenas ganhos de capital, a queda dos juros reduz o custo de oportunidade de o deter. O impulso mais recente veio ainda da paralisação do governo nos EUA no início do mês, aumentando o apetite pelo refúgio. Curiosamente, na última paralisação — a mais longa, com 35 dias, também sob a administração Trump, de dezembro de 2018 a janeiro de 2019 — os mercados acionistas americanos valorizaram mais de 10%.
S&P 500 em máximos em dólares, mas cai mais de 20% em ouro em 2025
Semana marcada por novos máximos históricos dos mercados acionistas, apesar do shutdown do governo dos EUA. Porém, o S&P 500 perde mais de 20% em 2025, quando cotado em ouro
