Há uma revolução silenciosa em curso no setor energético em Portugal e por todo o mundo. As baterias vieram para ficar. Portugal já conta com projetos de quase dois gigawatts de potência nominal em baterias.
O país tem uma grande ambição neste campo: o roteiro nacional para a transição energética (PNEC 2030) prevê que sejam atingidos 2 gigawatts de baterias até ao final da década. O apagão ibérico de 28 de abril também veio demonstrar a importância das baterias num sistema elétrico dominado por energias renováveis. Mas para que é que servem as baterias? Para injetar eletricidade na rede em caso de apagão ou para libertar energia nas horas de maior consumo.
São cerca de 50 projetos com quase 2 gigas, segundo as contas feitas pelo JE, que encontram-se em diferentes fases de desenvolvimento, incluindo os mais de 40 que vão ter direito a receber 100 milhões do Fundo Ambiental e do PRR.
O maior pertence aos chineses da Chint Solar que têm uma carteira de projetos solares com 6,6 gigas. O projeto híbrido de Pinel no concelho da Vidigueira, conta com uma potência solar de 340 MWp e com uma capacidade de baterias de 310 MW (620 MWh). Segue-se o complexo solar fotovoltaico do Sado, da portuguesa Tecneira, com um sistema de armazenamento de energia elétrica com 300 MW de potência nominal e com 600 MWh de capacidade de armazenamento de energia, divididos por 180 contentores de 20 pés, mais de 6 metros cada. A central solar tem 600 MW.
Na terceira posição, o projeto da Endesa no Pego, que nasceu do antigo ponto de ligação da central a carvão. O projeto de baterias conta com 247 MW, integrado num projeto com 365 MWp de potência solar, 264 MW de potência eólica e um eletrolisador de 500 kW para o hidrogénio verde. Além do Pego, tem o projeto solar flutuante híbrido do Alto Rabagão, distrito de Vila Real, com um sistema de armazenamento de 57 MWdc de potência nominal (114 MWh) com uma autonomia de 2 horas. O projeto conta com 44 MWp de potência solar e 50 MW de potência eólica. O terceiro projeto é a central solar fotovoltaica do Pereiro em Alcoutim, distrito de Faro, com 24 MWdc de potência e 99 MVA de capacidade solar.
O quarto projeto com mais capacidade prevista é o BigBATT da EDP junto à central a gás natural do Carregado: 150 MW.
Já no Algarve, ali junto a Espanha, o projeto Solara4 (a maior central solar em Portugal com 220 MWp) dos irlandeses da WeLink tem previsto um projeto de baterias de 100 MW, com capacidade para 4 horas. A companhia também prevê instalar mais 165 MW de eólica e outros 50 MW de solar.
Segue-se o projeto dos britânicos da Lightsource BP: a central solar fotovoltaica do Alqueva, distrito de Beja, conta com 86 MW de potência em baterias para uma potência solar de 431 MWp com 600 milhões de investimento. Já a Galp prevê ter um total de 65 MW de baterias nos projetos solares em Alcoutim, Faro.
Mas há mais projetos na calha. Só o envelope de 100 milhões do Fundo Ambiente, com verbas do PRR, vai apoiar mais de 630 MW de baterias, apurou o JE, nos quais se incluem os projetos da Solara4 e da Galp. Neste envelope, a Iberdrola conta com 90 MW de baterias em seis projetos.
“O armazenamento pode providenciar acesso a eletricidade durante horas em que existe mais procura. A injeção de eletricidade a partir de baterias dá mais flexibilidade ao sistema”, disse ao JE Francesca Piazza, responsável internacional da Lightsource BP, durante uma passagem recente por Portugal.
A companhia prevê instalar baterias e eólica em todos os seus projetos em Portugal. “As baterias diminuíram de valor, 90%, nos últimos anos”, afirmou, por seu turno, ao JE o diretor-geral da Lightsource BP para Portugal, Miguel Lobo.
Por sua vez, os franceses da Akuo também estão a desenvolver dois projetos de baterias em Portugal. “Acredito que com o progresso das baterias, os preços negativos do solar devem desaparecer”, disse ao JE o CEO da Akuo Bruno Bensasson, que passou recentemente por Lisboa. “As baterias vão ajudar porque são um complemento natural para as renováveis”.
A Agência Internacional de Energia (IEA) considera as baterias um dos pilares críticos para a segurança de abastecimento, a par de uma robusta rede elétrica.
Em Portugal, foi inaugurado este ano o primeiro projeto autónomo de baterias, com 12 megawatts na zona da Batalha. Um investimento de 12 milhões de euros da Infraventus e da CS Energy. Esta eletricidade via baterias já está a ser injetada diariamente na rede nacional.
Revolução das baterias chega a Portugal com 2 gigas na calha
Projetos associados a centrais renováveis surgem por todo o país com os maiores a serem desenvolvidos por chineses, portugueses ou espanhóis. Apagão reforçou necessidade de baterias.
