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Há vida no lítio em Portugal além dos carros elétricos

Energias renováveis, inteligência artificial ou drones vão precisar do precioso mineral que jaz no subsolo português com revolução das baterias.

Isto anda tudo ligado. A fileira europeia do lítio quer crescer para dar resposta à crescente procura por baterias para automóveis. Mas há mais vida além dos carros elétricos. É que as baterias são cada vez mais necessárias para centros de dados que vão alimentar a febre mundial da inteligência artificial (IA). Mas também para as centrais eólicas e solares, assim como drones ou robots. O mundo vai girar com base nas baterias. E o lítio português vai ter um papel no meio disto tudo.
“Houve as revoluções industriais e houve revoluções energéticas ao longo da nossa história. Esta é uma revolução industrial e energética. É uma revolução das baterias”, disse ao Jornal Económico Emanuel Proença, presidente-executivo da dona da mina de lítio de Boticas.
“A revolução energética que estamos a viver vai ter implicações no setor energético, no setor da mobilidade, drones e robótica e em muitos outros”, destacou.
As baterias são um “elemento transportador de energia para uma série de utilizações importantes e está associada à revolução do solar, do eólico e outras outras formas de formas de energia que, não sendo totalmente previsíveis, precisam de modulação”, segundo o responsável da mineira britânica Savannah.
O gestor não tem a “menor dúvida” de que o veículo elétrico vai “fazer um caminho de transformação completa da mobilidade ao longo das próximas décadas. Os nossos filhos vão olhar para o veículo de combustão interna como nós olhamos agora para o telefone de disco. Isto está a acontecer, mas demora anos e nalguns casos décadas”.
Mas há outra revolução a acontecer em paralelo: a da baterias estacionárias. “Servem cada vez mais para modelar sistemas elétricos completos, para modular o serviço a grandes indústrias, para modelar o sistema de apoio energético do país”, explica Emanuel Proença.
O mundo aposta cada vez mais na energia solar, que, obviamente, só brilha durante o dia. Isto deu origem ao fenómeno ‘bico de pato’ no mix energético diário, em que a produção de solar dispara durante o dia, mas com o consumo a não acompanhar, pois o pico de consumo é ao final da tarde, início da noite.
Se as centrais “tiverem baterias para pegar na energia solar e servir esse pico de consumo, como acontece no Texas ou na Califórnia, em grande dimensão e em grande escala, será muito bom para os consumidores finais e muito bom para a população em geral e para a economia. Aqui vai acontecer o mesmo, não há a menor dúvida”, previu.
A Savannah anunciou em meados de setembro, que conta com mais 40% de lítio face ao do que o previsto no Projeto Lítio do Barroso, em Boticas, Vila Real.
Emanuel Proença disse que esta é uma “confirmação importante” na “perspetiva dos bancos, dos investidores e de clientes. É evidentemente significativo saberem que têm aqui um projeto que pode ajudar a alimentar fábricas de veículos, de baterias, de refinarias por muitos e longos anos”.
Para o próximo ano, a companhia prevê fechar o financiamento do projeto, estando a trabalhar nesse sentido. “O trabalho de estruturação do financiamento é sempre um trabalho importante para uma empresa que está a desenvolver projetos destes. Isso implica muito trabalho com bancos, com os acionistas, com potenciais financiadores, com fornecedores de soluções, de apoios a fundo perdido”.
Sobre os preços do lítio que estão quase 99% abaixo do pico registado em 2022, Emanuel Proença disse: “Temos a sorte de ter um projecto que vive e trabalha bem em preços baixos. Vai haver um momento em que o preço vai voltar a explodir a nível mundial. Nós queremos nessa altura estar no mercado, porque assim estaremos a gerar mais retorno para todos e a gerar mais ‘royalties’”, remata o gestor.

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