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Novobanco retira crédito de José Guilherme da carteira de malparado Harvey

A dívida do construtor José Guilherme, que, segundo a auditoria especial da Deloitte superava inicialmente os 200 milhões, deverá ficar de fora da carteira Harvey por decisão do FdR.

O vencedor da carteira de crédito NPL de grandes devedores é escolhido esta sexta-feira entre o consórcio Deva Capital/Arrow e a DK Partners (Davidson Kempner).

O Novobanco pediu aos dois candidatos que apresentassem, ontem, quinta-feira, uma best and final offer, e decide hoje o comprador da carteira de grandes devedores que foi lançada no mercado com o nome “Harvey”, segundo fonte ligada ao processo.

O Jornal Económico sabe que Novobanco, a pedido do Fundo de Resolução, deverá retirar dois a três créditos do portfólio Harvey. Um deles é o crédito do construtor civil José Guilherme. O outro crédito a sair do portfólio é o da Constantino Fernandes Oliveira & Filhos - Sucatas e Ferro (conhecido por CFO), sabe o JE. Contactado, o Novobanco não comentou.
A decisão de retirada dos créditos ainda não estava formalizada à hora de fecho da edição, mas caminhava para ser oficial.
A dívida de José Guilherme, em 2017, quando a Lone Star comprou 75% do Novobanco, era de cerca de 200 milhões de euros. Na altura a Lone Star dava já como perdido o dinheiro emprestado pelo BES ao “amigo de longa data” de Ricardo Salgado. Um valor confirmado depois na auditoria especial da Deloitte, conhecida em 2020.

Não foi possível saber o valor líquido da dívida do construtor civil – que deu 14 milhões a Ricardo Salgado a título de “uma liberalidade” – no portfólio Harvey. Mas será um valor que terá em conta as imparidades constituídas.

A decisão de analisar a retirada destes créditos partiu do Fundo de Resolução, que considerou que o valor obtido nesta venda em bloco não era o suficiente.

O Fundo de Resolução, ao abrigo do contrato do mecanismo de capitalização contingente, tem o poder de excluir alguns créditos das carteiras de NPL (Non Performing Loans) que o Novobanco coloca no mercado, se considerar que a recuperação interna poderá gerar mais valor e desta forma gerar menos perdas.

Recorde-se que, na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Novo Banco, o antigo diretor do departamento de auditoria interna do banco, Luís Seabra, adiantou aos deputados que o Fundo de Resolução pediu ao Novobanco mais auditorias específicas a grandes devedores da instituição além da Promovalor de Luís Filipe Vieira. Citou então o caso de uma análise concreta pedida pelo Fundo de Resolução à situação da Investfundo de José Guilherme. No entanto, os créditos de José Guilherme, segundo Luís Seabra, ficaram cobertos pela auditoria especial da Deloitte por uma questão de “eficiência e de oportunidade”.

A carteira Harvey foi lançada com empréstimos em incumprimento com o valor bruto de 640 milhões de euros, de 20 single names (grandes devedores). Em concreto, oito créditos de empresas e outros 12 créditos ligados ao setor imobiliário. Mas a retirada de dois a três créditos irá baixar o valor da carteira, apurou o JE.

Entre os devedores mais conhecidos que estão nesta carteira, consta o Grupo Lena e a Urbanos, de Alfredo Casimiro, dono da Groundforce, segundo uma notícia do jornal Eco. Faz ainda parte do portfólio de malparado Harvey a dívida da Soares da Costa, apurou o Económico.

A Harvey é a carteira de grandes devedores que substituiu a Nata III que nunca chegou a avançar por causa do Fundo de Resolução.

O Jornal Económico noticiou em Outubro de 2020 que o Novobanco desistiu de vender o portefólio de crédito malparado designado de “Nata III”, que era composto, em 75%, por créditos em incumprimento cobertos pelo Mecanismo de Capitalização Contingente (CCA) do Fundo de Resolução.

Na altura, o Fundo de Resolução, perante a pressão política em vésperas de aprovação do Orçamento do Estado de 2021, invocou “razões de mercado” para desaconselhar a administração do Novobanco a avançar com a venda.

Cinco carteiras de NPL no mercado
Atualmente estão cinco carteiras de ativos improdutivos a serem vendidas no mercado, todas em processos muito competitivos. Para além da carteira Harvey do Novobanco, está no mercado a carteira Mercury (da Caixa Geral de Depósitos), que tem na corrida o consórcio Arrow/CRC, cujo calendário aponta para que as ofertas sejam entregues daqui a um mês.

“Trata-se de uma carteira granular e não de grandes devedores”, esclareceu recentemente a Caixa. A carteira da CGD é de crédito NPLs colateralizado (secured).

O Novobanco tem também no mercado outra carteira de NPL (crédito malparado), a “Orion”, cuja data da oferta (bid) é no dia 30 de novembro.

Está ainda a correr o processo de venda da carteira de NPL designada de Gerês (do Banco Montepio), no valor de de 265 milhões de euros e cuja data do “bid”, como se diz na gíria do mercado, é o próximo dia 8 de dezembro.

Finalmente a carteira Lúcia, também revelada em primeira-mão pelo Jornal Económico, do Millennium BCP, que tem a data da entrega das propostas marcada para o dia 10 de dezembro.

A carteira de ativos improdutivos do BCP é de malparado e de imóveis, e soma 110 milhões de euros, sendo 63 milhões de NPL e 47 milhões de imóveis.

O mercado de venda de distressed assets (créditos improdutivos e imóveis recebidos em dação) vai estar animado até ao fim do ano. 

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