Um dos sectores mais afetados pela escassez de materiais e mão-de-obra tem sido o da construção, que até foi dos menos castigados pela pandemia e as restrições a que esta obrigou, mas cujos custos continuam a subir e a um ritmo cada vez mais acentuado. Os dados mais recentes do INE e da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) apontam para uma subida generalizada dos custos, uma tendência que não se deverá inverter no futuro imediato e que pode comprometer alguns projetos de maior magnitude, especialmente públicos.
O índice de custos de construção de habitação nova referente a outubro revela um crescimento em relação ao mês anterior de 0,8%, o que resulta numa variação homóloga de 7,4%. Decompondo por custos dos materiais e da mão-de-obra, estas componentes registaram um aumento de 8,8% e 5,4%, respetivamente, comparando com igual período do ano passado. Em setembro, estas variações haviam sido, pela mesma ordem, de 8,3% e 4,7%, enquanto o indicador total havia crescido 6,8%, isto em termos homólogos; em agosto, o aumento total foi de 6,4%, com crescimentos de 8,1% e 4,2% nos custos dos materiais e da mão-de-obra, respetivamente.
Assim, não só se mantém a trajetória de aumento de custos, como os aumentos homólogos têm sido cada vez maiores. Ao mesmo tempo, desde setembro do ano passado que a taxa de variação mensal total tem sido positiva, sendo que, neste período, apenas em fevereiro e setembro deste ano o custo dos materiais não cresceu em relação ao mês anterior. No que respeita ao custo da mão-de-obra, este diminuiu em dezembro do ano passado, bem como em janeiro e agosto deste ano.
Ainda assim, há que distinguir entre cada um destes componentes. Enquanto a subida dos custos dos materiais resulta de um fenómeno global, a subida do custo da mão-de-obra é reflexo de um desajuste entre a procura e oferta no mercado de trabalho deste sector, onde o desemprego caiu em relação ao ano passado, mas as dificuldades de contratação persistem, explica Manuel Reis Campos, presidente da AICCOPN.
“No que diz respeito à anómala subida dos preços das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção, estamos perante um fenómeno global, o qual tem sido apontado como um dos principais riscos para a retoma das economias e sobre o qual não é possível avançar com previsões”, começa por referir, lembrando a previsão da generalidade dos bancos centrais de que este se trata de um fenómeno transitório, mas que continua a verificar-se na generalidade das economias avançadas e cuja previsão é que se comece a reverter “gradualmente ao longo do próximo ano”.
“Já no que diz respeito à mão-de-obra, o que se verifica, sobretudo, é um desajustamento entre a procura e a oferta de trabalho. Por um lado, identifica-se a falta de 70 mil trabalhadores no sector e, por outro, em outubro, o IEFP registava um número total de 316.715 desempregados inscritos, dos quais 29.585 são oriundos da fileira da construção e imobiliário”, continua, ilustrando a aparente contradição vivida em termos laborais nesta atividade.