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Abel bi-campeão. Isto sim, não se voltará a ver nos próximos 50 anos

Daqui a 50 anos, vão lembrar-se que foi um português que conquistou a Libertadores”. Na véspera do último dia de 2019, Jorge Jesus era exultado pelo país futebolístico, levado “em ombros” por uma onda mediática de enormes proporções (horas e horas de diretos e peças jornalísticas).

Daqui a 50 anos, vão lembrar-se que foi um português que conquistou a Libertadores”. Na véspera do último dia de 2019, Jorge Jesus era exultado pelo país futebolístico, levado “em ombros” por uma onda mediática de enormes proporções (horas e horas de diretos e peças jornalísticas). A 23 de novembro desse ano, o Flamengo conquistou a Taça Libertadores, título que escapava ao clube carioca desde 1981 e que passou a ser, nas palavras do técnico (que em pouco mais de um ano conquistou seis troféus, incluindo o campeonato brasileiro), o título mais importante da sua carreira.

Quase um ano depois da Taça Libertadores ter sido conquistada por um português e da profecia de Jesus para os próximos 50 anos, Abel Ferreira chega ao Palmeiras, clube mais titulado do futebol brasileiro, com pouco alarido mas com a pesada herança de Jesus nos ombros e a exigência de um futebol tão atrativo como o do seu conterrâneo. Um mês antes, o caminho do antigo técnico do SC Braga cruzou-se com o de Jorge Jesus na Liga dos Campeões e antes de rumar ao Brasil, fez cair por terra o primeiro objetivo da época de um Benfica que investiu 100 milhões no início dessa temporada.

No Brasil, os analistas foram unânimes: o gigante Palmeiras seria o maior desafio da carreira do jovem treinador português, a quem era reconhecida “convicção, garra e emotividade”. Daí a ter sucesso no exigente “Brasileirão”, era outra história. Apesar de uma chegada discreta, o jornalista desportivo da ESPN Brasil, Paulo Cobos, não teve dúvidas em elogiar as primeiras palavras de Abel Ferreira como treinador do “verdão”: “Em quase 25 anos de jornalismo desportivo, nunca vi um treinador com declarações tão sensatas, tão equilibradas, tão humanas e tão inteligentes como as dele”. No dia da sua apresentação, Abel garantiu aos adeptos: “Não vim aqui para ter férias, vim aqui para trabalhar e ganhar com o clube. Vim para ajudar os jogadores a crescerem, é a minha missão”, disse o sucessor de Vanderlei Luxemburgo. Quando chegou ao clube de São Paulo, que segundo um estudo do instituto de pesquisas Datafolha tem a preferência de 6% dos brasileiros (12,6 milhões de pessoas, mais do que a população de Portugal), Abel Ferreira herdou o apuramento para os oitavos de final de duas competições: Taça do Brasil e Taça Libertadores.

No final do ano, levantou esses dois troféus e surpreendeu o país do futebol. Superou o Grémio e levou a Taça do Brasil. Já a ambicionada Libertadores, que escapava ao “verdão” desde 1999, foi conquistada no Estádio do Maracanã, após uma vitória por 1-0 frente ao Santos. Pelo segundo ano consecutivo, a mais desejada prova de clubes da América do Sul era conquistada por um treinador português. Seria o início de uma tendência que iria continuar a marcar o futebol brasileiro no ano seguinte mas que não iria abrandar o nível de pressão colocado em Abel Ferreira.Apesar das dificuldades do Palmeiras em manter o patamar no “Brasileirão”, algo que lhe continua a valer críticas (às vezes, bem ruidosas), o técnico que começou o seu percurso no Sporting B prosseguiu o seu caminho com a imprensa brasileira a marcar-lhe algumas diferenças para Jorge Jesus: “Ao contrário do seu conterrâneo, não parece estar no Brasil apenas de passagem. Abel não quer ser maior que os jogadores. Jesus sempre pareceu que estava acima de todos os jogadores do Flamengo”, sublinhava Paulo Cobos, jornalista desportivo da ESPN Brasil.

Foi esse caminho que Abel foi passando fase após fase da Libertadores até chegar a nova final da “Liga dos Campeões” sul-americana, desta vez no Estádio Centenário, em Montevideu, capital do Uruguai, com o Flamengo como super-favorito. No final, novo triunfo de Abel, um inacreditável bis na Libertadores e um lugar na história como, provavelmente, o maior treinador da história do Palmeiras. “Hoje sou muito melhor treinador graças a vocês. Mais uma vez obrigado por encherem o meu coração nos dias mais difíceis”, disse Abel ao grupo de trabalho no avião que fez a viagem de volta de Montevideu para São Paulo. Desconhece-se o futuro mas no Palmeiras, poucos acreditam que voltarão a ver tal feito nos próximos 50 anos.

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