Skip to main content

O velho mundo de Blake & Mortimer

Erancis Blake e Philip Mortimer surgiram, pela primeira vez, na revista “Tintin” em 1946. Num ambiente britânico, um agente secreto e um físico, têm uma missão sem fim: salvar o mundo de cientistas loucos e de impérios do mal.

Erancis Blake e Philip Mortimer surgiram, pela primeira vez, na revista “Tintin” em 1946. Num ambiente britânico, um agente secreto e um físico, têm uma missão sem fim: salvar o mundo de cientistas loucos e de impérios do mal. A sua grande arma é a curiosidade científica, num planeta que ressuscitava dos tenebrosos anos da guerra. O criador, Edgar Pierre Jacobs, era muito influenciado por Hergé e por Alex Raymond (Flash Gordon, X-9), e quase sem o perceber seria um dos fundadores da “nona arte”. Outra grande fonte de inspiração de Jacobs eram os filmes expressionistas alemães de Murnau e Lang e daí o seu gosto pelo cruzamento entre a luz e as sombras, mas a sua arte acabaria por ganhar contornos próprios, como se viu nas suas grandes obras-primas, “O Mistério da Grande Pirâmide”, de 1955, e “A Marca Amarela”, de 1956. O autor criou dez álbuns e após a sua morte, em 1987, o seu legado continuaria a ser gerido pela editora Dargaud. Desde então, numerosas equipas fizeram renascer Blake & Mortimer porque os heróis são eternos. Foi assim que nomes como Bob de Moor, Ted Benoit, Jean Van Hamme ou Peter Van Dongen fizeram novos álbuns da dupla, dentro dos parâmetros definidos por Jacobs.

Foi exactamente “O Segredo do Espadão” que Jacobs começou a desenhar para a “Tintin” nesse ano pós-guerra. O inimigo era, depois dos nazis, “o império amarelo” (ajudado por Olrik), criado no interior da misteriosa Ásia, que tinha como objetivo derrotar os povos decadentes. Só o secreto Espadão de Blake e Mortimer o pode combater e derrotar. Hoje, pode compreender-se muito do universo de Jacobs, que apesar de mais interessado no drama, estava pautado por duas guerras mundiais, a ocupação nazi e a história colonial belga, sobretudo no Congo. E, claro, pelo mundo da ficção científica, que desde o início do século XX influenciava a sociedade.

O Espadão regressa agora, com “O Último Espadão”, através de um dos grandes argumentistas da BD europeia, Jean Van Hamme (criador de XIII, ou Largo Winch), que já havia feito com o desenho de Ted Benoit o elegante “O caso Francis Drake”, que relançaria a série em 1996. “O Último Espadão” é de um realismo muito profundo, porque parte de uma não muito estranha aliança entre os nazis e o IRA irlandês (nascida durante a II Guerra Mundial), para um período pós-guerra, onde se tenta utilizar um dos últimos Espadões (os aviões atómicos desenvolvidos por Mortimer) para atacar o Palácio de Buckingham e com isso eliminar a família real britânica. É uma aventura vibrante, onde ressurge um impiedoso Olrik. Há uma tentativa de dar um ar mais humano (e mais vulnerável) aos dois heróis da série, no meio da violência das suas aventuras.

Nasir surge com um papel mais ativo (e não secundário, como fez Jacobs) e explica-nos porque Blake continua a ser capitão, apesar das suas altas responsabilidades nos seviços secretos britânicos.
O trabalho gráfico de Teun Berserik e Peter Van Dongen é sóbrio, e parece mais refinado do que o que fizeram para os dois volumes de “O Vale dos Imortais”.

Mas muito disso se deve, talvez ao fulgor criativo de Van Hamme. Este é um Blake & Mortimer sólido, sobretudo para aqueles que saborearam as aventuras dos dois heróis ao longo de décadas.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes, faça login ou subscreva o Jornal Económico