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“A Klarna quer fazer uma disrupção na banca de retalho”

A empresa sueca de pagamentos prestacionais entrou em Portugal esta semana, a tempo das compras de Natal. O CEO e co-fundador da marca diz ao JE que o objetivo é mais vasto: mudar os serviços bancários como os conhecemos.

Sebastien Siemiatkowski é um dos dois fundadores da fintech mais valiosa da Europa, a Klarna, atualmente valorizada em mais de 40 mil milhões de euros. A Klarna entrou esta semana em Portugal e, em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, o CEO da empresa diz ao que vem. E vem em força: quer conquistar os hábitos de pagamento online dos portugueses para depois os captar como clientes para todos os outros serviços bancários. “Queremos fazer uma disrupção no espaço da banca de retalho. Pensamos que há uma oportunidade de trazer melhores serviços aos consumidores, com um preço razoável, de maior qualidade e mais eficientes”. Como é que se diz “sem papas na língua” em sueco?

Com presença até agora em 18 mercados em todo o mundo, a Klarna juntou Portugal ao lote esta semana, juntando os consumidores portugueses aos 90 milhões que já usam os serviços da entidade bancária sueca. “Com o lançamento oficial em Portugal temos cobertura total da Europa Ocidental e, portanto, agora vamo-nos focar na Europa de Leste. Lançámos a Polónia há uns meses, mas continuaremos atentos aos países europeus no Leste. Adorávamos cobrir toda a zona euro e a seguir toda a União Europeia. É a nossa maior ambição, mas também temos os olhos postos noutros países fora do continente europeu. Vamos ver. É tudo muito entusiasmante”, diz o CEO da Klarna.

Aqui como nos outros mercados, a ambição de longo prazo continua a ser a mesma. “Nós somos um banco supervisionado, com todas as licenças ao abrigo dos padrões europeus. Proporcionamos serviços bancários e o serviço de pagamento é a forma como os consumidores nos conhecem. Veem-nos num website, experimentam o nosso serviço – por diferentes razões, pensam que é atraente e depois de experimentarem dizem que é ótimo e, esperemos, passam a usá-lo em cada vez mais compras”. O objetivo último não é esse, revela Sebastien Siemiatkowski. Em alguns países com mercados mais maduros – como a Suécia e Alemanha – os utilizadores acabam por se tornar clientes bancários da Klarna, passando a usá-lo para todos os seus serviços bancários.

“Ou seja, evolui do pagamento de uma compra online para uma relação bancária completa. É essa a ambição que temos também em Portugal, que possamos trazer os nossos serviços financeiros para os consumidores portugueses”, explica ao JE.
E há vantagens imediatas face à banca de retalho tradicional? “A maioria dos nossos utilizadores começa por comprar alguma coisa online. É assim que a relação, geralmente, começa. Esperemos que quando o fizerem possam ver que, por exemplo, oferecemos o pagamento em três prestações, com uma taxa de juro zero. Isso é bastante popular. Também possibilitamos que as pessoas comprem agora e paguem depois. Ficam com um maior segurança quando compram online, porque com um cartão de débito primeiro paga e só depois recebe o produto e com o nosso cartão podem ver o produto antes de o pagarem por completo”.

Algo que é particularmente relevante em Portugal, um país em que as pessoas parecem avessas aos cartões de crédito. “Nos mercados com alta penetração de cartões de débito e baixa penetração de cartões de crédito, como é o caso de Portugal, as pessoas parecem ter mais dificuldades quando compram online. Torna-se um fator inibidor. Porque quando compras numa loja local, o cartão de débito funciona muito bem, mas quando se compra à distância... o débito não funciona tão bem, porque há uma separação entre a compra e o momento em que vês o produto. Essa era uma característica muito interessante. Além disso, acreditamos em fornecer os nossos serviços bancários numa base normal. Os portugueses são um mercado super interessante”, considera Sebastien Siemiatkowski.

Aqui ao lado, em Espanha, a Klarna já conseguiu um milhão de utilizadores em pouco mais de seis meses. Para Portugal, não há um número assumido. Sebastien Siemiatkowski prefere reafirmar que, para já, pretende proporcionar um bom serviço aos portugueses. E, de permeio, desafiar os limites dos bancos tradicionais. “Eu acredito que esta década, de 2020 até 2030, será a década de transformar a banca de retalho. Aliás, vemos empresas [como a Revolut ou a N26]a ouvirem os mesmos comentários que ouvia a Zalando quando começou em 2010: ‘Esta avaliação é de doidos’, ‘alguma vez serão uma grande empresa? Não vai correr bem’. Hoje é uma empresa de sucesso”.

Quanto aos “incumbentes” – que é como chama aos bancos tradicionais – têm três ao opções ao serem confrontados com uma revolução:“a primeira, se tiverem sorte, é terem um líder corajoso e com vontade de desafiar a maneira de trabalhar. Adota novos métodos e transforma a empresa; a segunda coisa que podem fazer é através da estratégia de fusões e aquisições, comprando empresas mais pequenas e startups para tentar inovar (é uma estratégia, que pode ou não resultar e resolver o desafio) e a terceira é ir embora. Todas as empresas têm opção”.
Klarspråk. É assim que se diz “sem papas na língua” em sueco.

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