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Save the Children diz que 80% das crianças palestinianas detidas pelo exército israelita são agredidas, despidas e vendadas

Relatório da Save the Children reporta um "sistema abusivo de detenções militares" com agressões, abuso sexual, isolamento e privação de comida aos menores detidos pelo exército israelita nos territórios ocupados, a maioria acusada de arremesso de pedras, resultando em marcas psicológicas profundas.

Mais de 80% das crianças palestinianas detidas pelo exército israelita são agredidas às mãos dos soldados, com 69% a reportarem buscas corporais e quase metade, 42%, a ficarem feridas no momento de detenção. Estas são as principais conclusões de um relatório da Save the Children sobre os abusos praticados sobre menores palestinianos, sujeitos a lei marcial e à ocupação de Israel.

O relatório divulgado esta segunda-feira sublinha o “grande e grave abuso dos direitos humanos” sistemático levado a cabo pelo exército israelita sobre as crianças palestinianas, estimando entre 500 a mil detenções de menores a cada ano.

A análise incluiu 228 detidos menores de idade, que passaram entre um e 18 meses nas prisões israelitas, concluindo que a maioria foi agredida, algemada e vendada durante a detenção. A principal acusação das autoridades israelitas, que ocupam e controlam a Cisjordânia, é de arremesso de pedras, um crime punível com pena de prisão até 20 anos na lei israelita.

Metade destas detenções ocorreram na casa dos menores detidos e quase dois terços (65%) foram levadas a cabo entre a meia-noite e o nascer do sol, continua o relatório. A maioria dos inquiridos reporta ter visto serem-lhe negados direitos básicos como alimentação (70%) e cuidados de saúde (68%), sendo que alguns confessam ainda ter sido vítimas de abuso sexual.

Mais de metade dos detidos foram sujeitos a isolamento (60%), que variou entre um e 48 dias, uma percentagem igual à dos jovens que foram agredidos com paus ou armas de fogo.

“A nossa pesquisa mostra novamente que [as crianças] estão sujeitas a abusos sérios e generalizados às mãos de quem os deveria proteger”, acusa Jason Lee, diretor da Save the Children na Palestina ocupada.

“Não há justificação para bater em crianças e despi-las, tratá-las como animais e roubar-lhes o seu futuro. Esta crise na proteção de menores não pode ser mais ignorada. Tem de haver um ponto final neste sistema abusivo de detenções militares”, continua.

Como resultado dos abusos sistemáticos e generalizados, 53% dos inquiridos reporta pesadelos frequentes e 73% sofre de insónias ou dificuldades em dormir, ilustrando bem os impactos psicológicos nas crianças palestinianas. Recorde-se que Israel ocupa a Cisjordânia desde 1967, violando as linhas definidas no armistício para uma solução de dois Estados e colecionando violações dos direitos humanos na ONU.

Mais recentemente, várias organizações internacionais consideraram que o governo de Telavive impõe um regime de apartheid sobre a população palestiniana nos territórios ocupados, com sistemas legais distintos para ambas as populações, controlo de movimentos, detenções arbitrárias, segregação e asfixia económica. Entre estas organizações, destaque para a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, além de grupos israelitas como a B’Tselem.

A violência de colonos na Cisjordânia, em articulação com o exército israelita, tem levado a condenações da comunidade internacional e até a uma reprimenda dos EUA, o principal apoiantes de Israel. Washington envia mais de três mil milhões de dólares (2,76 mil milhões de euros) em ajuda todos os anos.