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Retrato da América pelos olhos de uma nómada analógica

O encerramento de uma fábrica no Nevada leva uma viúva acabada de engrossar as estatísticas do desemprego nos Estados Unidos a vender tudo o que tem para comprar a caravana com que percorre o Oeste em busca de trabalho sazonal que lhe garanta sustento.

O encerramento de uma fábrica no Nevada leva uma viúva acabada de engrossar as estatísticas do desemprego nos Estados Unidos a vender tudo o que tem para comprar a caravana com que percorre o Oeste em busca de trabalho sazonal que lhe garanta sustento. Eis “Nomadland - Sobreviver na América”, grande vencedor da cerimónia dos Óscares de 2021, com as estatuetas douradas de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Atriz, e disponível na Fnac em DVDe Blu-Ray, para quem queira guardar o filme ou não o tenha podido ver no cinema ou, mais recentemente, nos canais TV Cine.

Quando muito se fala em nómadas digitais, a protagonista Fern, interpretada por Frances McDormand (também produtora do filme), transporta literalmente o espectador para outro tipo de vida errante, na qual nem sequer falta trabalho temporário num dos centros logísticos da Amazon que são o outro lado da moeda da desindustrialização que faz arrancar a viagem. Mas o argumento, baseado no livro da jornalista Jessica Bruder, que descreveu como muitos norte-americanos mais velhos adotaram a vida errante por força das circunstâncias, tenta sempre contrabalançar as muitas dificuldades que estes sentem com a resiliência e alegria de pertencer a uma comunidade sobre rodas.

Numa atmosfera de cinema vérité, ao ponto de vários elementos do elenco serem nómadas na vida real, a longa-metragem realizada por Chloé Zhao, uma chinesa radicada nos Estados Unidos que assim se tornou a segunda mulher a receber a estatueta dourada da Academia de Hollywood nessa categoria (uma dúzia de anos após Kathryn Bigelow se tornar a pioneira, com “The Hurt Locker -Estado de Guerra”), foi filmada ao longo de quatro meses no outono e inverno de 2018. Toda a equipa viveu e viajou em caravanas, numa verdadeira imersão na realidade que pretendia mostrar ao mundo, e o resultado final correspondeu às expectativas na captura de uma faceta negligenciada do zeitgeist.

Além da personagem de Frances McDormand, sempre a procurar que os empregos de baixo salário não lhe abatam a vontade de continuar a percorrer a estrada, “Nomadland - Sobreviver na América” conta as histórias de outros nómadas (mais ou menos) analógicos que deixaram para trás outras vidas e enfrentam tão bem quanto podem o quilómetro seguinte. O melhor exemplo disso é Charlene Swankie, que interpretou uma versão de si própria (com a relevante diferença de no filme ser doente oncológica) e acabou por acompanhar a realizadora à entrega dos Óscares.

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