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Procura por contentores na rota China-EUA cai com tarifas

Logística a Porto de LA terá menos um terço das chegadas na próxima semana e Hapag-Lloyd fala em 30% de cancelamentos na rota China-EUA fruto do protecionismo criado pela política de Trump.

A política comercial norte-americana já está a fazer estragos na economia global e um dos principais sintomas é bem patente nas rotas logísticas: a procura por fretes da China para os EUA colapsou desde os anúncios de tarifas por Washington aos produtos chineses, mostrando os efeitos na economia real do protecionismo americano. Parte destas rotas e navios estão a ser redirecionados para outros destinos e origens, mas os fluxos entre as duas maiores economias mundiais eram demasiado consideráveis para serem substituídos na totalidade.
O alerta mais recente veio de Los Angeles, na costa oeste dos EUA, o principal porto de entrada naquele país de bens oriundos da China e transportados por via marítima: a próxima semana (a começar no dia 4 de maio) terá menos um terço de chegadas do que igual período do ano passado, uma consequência evidente da incerteza criada pelas políticas comerciais norte-americanas.
Na mesma linha, o serviço de rastreamento logístico da Vizion reporta menos 45% de contentores reservados para a rota marítima China-EUA em meados de abril, dados citados pelo ‘Financial Times’ – e uma tendência transversal aos fretes aéreos, que também estão em queda.
Estas quebras surgem no seguimento dos anúncios de tarifas colocadas primeiro por Washington e, em resposta, por Pequim que levaram a uma taxa efetiva acima de 100%. Segundo os analistas, barreiras à entrada acima deste limiar funcionam na prática como um embargo, fazendo colapsar quase na totalidade as trocas entre os dois países. Ambos os países já mostraram abertura para reverter parte desta política ou criar exceções, além de se sentarem à mesa das negociações, mas os efeitos negativos já se materializaram e parecem inescapáveis.
A consultora marítima Drewry, que vem recolhendo dados sobre o setor global de contentores, transporte marítimo e logística desde 1979, projeta agora um recuo de 1% na procura por contentores este ano – apenas a terceira vez que se verifica uma descida desde que estas estatísticas são compiladas. Em 2009, o volume de contentores caiu 8,4%, castigado pela crise financeira global, enquanto a crise pandémica de 2020 causou uma descida de 0,9%. Com uma perda estimada de 1% para este ano, as políticas de Trump arriscam ter um impacto negativo mais significativo na logística mundial do que a Covid-19.
Também o gigante logístico Hapag-Lloyd reportou uma taxa de cancelamento de 30% nos fretes China-EUA, atribuindo a razão à escalada de tensões entre os dois países e explicando que esta queda se faz acompanhar de “um enorme aumento” na procura por rotas originárias do Sudeste Asiático, nomeadamente Tailândia, Vietname e Camboja.
Por outro lado, Trump, que tem falado abertamente em tomar o Canal do Panamá à força, sugeriu esta semana que os navios norte-americanos deveriam poder passar naquele canal, bem como no do Suez, no Egito, livres de cobrança. Noutra revisão histórica, Trump alega que o Suez foi construído pelos EUA (na realidade, foi uma obra de financiamento privado liderada por britânicos e franceses numa altura em que os EUA estavam em guerra civil), pelo que não devem pagar pelo seu uso, sublinhando a sua preocupação com os transportes marítimos.
Recorde-se que o Suez tem visto uma diminuição do tráfego fruto dos ataques dos Houthis, do Iémen, em retaliação pela conduta militar israelita em Gaza e apoio do Ocidente, que várias organizações internacionais acusam de crimes de guerra e genocídio. A expectativa no final de 2024 era de uma recuperação gradual até uma situação normal em março, mas a quebra do cessar-fogo pelas forças de Telavive levou a nova onda de ataques da milícia iemenita e a uma redução de 50% no tráfego marítimo no Suez no primeiro trimestre deste ano.

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