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Cenário de estagflação ganha força nos Estados Unidos

Fecho da bolsa : Economia norte-americana contraiu-se no primeiro trimestre: o PIB caiu 0,3% e o PCE subiu 3,7%, o ritmo mais rápido desde 2023. Ainda assim, os mercados seguram-se.

O cenário de estagflação intensifica-se nos EUA, com o PIB a contrair 0,3% no primeiro trimestre — o primeiro recuo desde o início de 2022 — e a inflação dos preços no consumidor, medida pelo índice PCE (Personal Consumption Expenditures Price Index), a subir 3,7%, o ritmo mais elevado desde o terceiro trimestre de 2023. Ainda assim, os mercados acionistas resistem.
A queda do PIB deveu-se, em grande parte, a uma subida acentuada das importações — que cresceram 41,3%, com destaque para um aumento de 50,9% nas mercadorias —, antecipando as tarifas comerciais impostas no início de abril pelo presidente Donald Trump. Como as importações são subtraídas ao PIB, este aumento teve um impacto direto na queda do crescimento económico.
Apesar da contração, alguns analistas consideram que esta poderá ser temporária, dado o caráter excecional do pico de importações, e admitem uma eventual correção nos trimestres seguintes. As exportações, por sua vez, cresceram ligeiramente, 1,8%. Os gastos dos consumidores aumentaram 1,8% — abaixo dos 4% do trimestre anterior —, representando o ritmo mais lento desde meados de 2023. Ainda assim, em março, os gastos registaram uma subida 0,7%, acima das expectativas.
O investimento privado interno teve um desempenho robusto, com um aumento de 21,9%, impulsionado principalmente pelo investimento em equipamento, que subiu 22,5%. O crescimento poderá também estar relacionado com o efeito das tarifas. Por outro lado, os gastos do governo federal caíram 5,1%, contribuindo negativamente para o desempenho do PIB.
A política comercial de Trump volta assim a influenciar fortemente a balança externa dos EUA. Depois de anunciar tarifas generalizadas de 10% sobre parceiros comerciais, o presidente suspendeu temporariamente as medidas por 90 dias para permitir negociações. Ainda que alguns acordos estejam próximos, não há resultados concretos até ao momento.
A inflação também complicou o cenário. O índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE), indicador preferido da Reserva Federal dos EUA, subiu 3,6% no trimestre, significativamente acima dos 2,4% registados no trimestre anterior. Excluindo alimentos e energia, o PCE aumentou 3,5%. Em cadeia, registou uma subida de 3,7%, acima das previsões.
Estes dados colocam a Fed numa posição difícil: por um lado, a contração do PIB poderia justificar uma descida das taxas de juro; por outro, a subida da inflação poderá travar essa decisão. Mesmo assim, os mercados continuam a antecipar cortes nas taxas já em junho, com a expectativa de até quatro reduções até ao final do ano.
O índice de custo do emprego também subiu 0,9% no trimestre, conforme previsto. Apesar da contração, a criação de emprego continua, embora a um ritmo mais moderado: em abril, o setor privado adicionou apenas 62 mil postos de trabalho, segundo dados da ADP. Os mercados aguardam agora os dados oficiais do Bureau of Labor Statistics referentes ao relatório de emprego, que serão divulgados na sexta-feira, dia 2 de maio.

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