A hegemonia da Google no mercado dos motores de busca está sob ameaça, para além dos tradicionais adversários. Os “culpados” são os chatbots de Inteligência Artificial (IA), cujo mercado deverá ascender a 20,81 mil milhões de dólares em 2029.
Os números são claros quanto à quebra de influência do colosso tecnológico norte-americano, que tem perdido terreno para outros facilitadores de informação. De acordo com o próprio ChatGPT, mais de 987 milhões de pessoas utilizarão chatbots globalmente.
“Se considerarmos assistentes de voz, chatbots empresariais e plataformas como a WhatsApp ou a WeChat, centenas de milhões de pessoas usam algum tipo de chatbot diariamente”, respondeu-nos a chinesa DeepSeek, numa pesquisa feita esta quinta-feira, Dia do Trabalhador.
A resposta (completa) apresentada pelo ChatGPT terá resultado num gasto acima de quatro litros de água. Segundo o recurso “Vista geral de IA” da Google, o consumo de água da plataforma da OpenAI é estimado em cerca de 500 mililitros por cada 100 palavras geradas.
André Folque, managing director da Choreograph, braço de data e tecnologia do grupo WPP, diz ao JornalEconómico (JE) que “a adoção crescente de soluções baseadas em IA está a transformar os hábitos digitais e a forma como os utilizadores consomem e interagem com conteúdo online”.
“A preferência emergente por chatbots suportados por modelos de linguagem avançados (LLMs) está a desafiar a hegemonia da Google no mercado da pesquisa, colocando em causa o seu papel central no ecossistema digital”, analisou.
Esta “migração” acarreta, naturalmente, tanto consequências como oportunidades para os grupos publicitários, forçados a redesenhar as já dinâmicas estratégias em curso e a seguir o rasto dos consumidores digitais.
André Folque, à frente da Choreograph Portugal desde março, fala mesmo num “ponto de inflexão”.
“Para a indústria publicitária, historicamente dependente das plataformas da Google para planeamento de meios e alocação de investimento, esta mudança representa um ponto de inflexão com elevado potencial de disrupção”. “As marcas e agências enfrentam agora a necessidade estratégica de repensar como constroem visibilidade, relevância e influência ao longo da jornada digital do consumidor”, continuou.
Segundo um relatório recente da Bain & Company, 80% dos consumidores online dependem de resultados apresentados por IA para pelo menos 40% das suas pesquisas.
“Neste novo paradigma, as experiências de pesquisa são cada vez mais conversacionais, personalizadas e orientadas por contexto, permitindo às marcas integrarem-se nas respostas de forma mais direta, credível e alinhada com a intenção do utilizador. Isto reduz a dependência de formatos tradicionais como os anúncios pagos ou o SEO clássico, ao mesmo tempo que abre novas oportunidades para otimização de presença em ambientes de IA generativa”, explica.
A explosão da utilização destas ferramentas de conversação conta com poucos anos, mas a génese tem várias décadas. Na década de 1960, Joseph Weizenbaum, escritor e cientista de computação norte-americano de origem alemã, professor do MIT, desenvolveu o primeiro chatbot: o programa ELIZA.
“O ChatGPT e outros outros do género têm retirado essa predominância do Google já há algum tempo. Percebe-se perfeitamente que o próprio Google também modificou a própria forma como mostra os resultados de pesquisa”, notou João Neves, CDO da Nova Expressão, em conversa com o JE.
“As pessoas começam a perceber que conseguem fornecer informações mais detalhadas, com conteúdo mais estruturado, e isso transforma a visão dos utilizadores no sentido de utilizarem mais estas ferramentas do que a própria pesquisa do Google. Não retira 100%, mas está a retirar esse protagonismo do que era a pesquisa que era feita no Google há um tempo”, acrescentou.
Para as próprias agências de publicidade,“obviamente que é útil”, sublinha. “Consegue-se obter insights mais estruturados e com conteúdo relevante”, referiu João Neves.
Chatbots arranham hegemonia da Google
Tecnologia : Preferência clara por chatbots de inteligência artificial retira protagonismo à Google como motor de busca convencional. Indústria da publicidade vê-se forçada a “migrar”.
