A passagem de Winston Churchill pela Região Autónoma da Madeira é um dos expoentes máximos da rica história do turismo madeirense. E Câmara de Lobos é a prova disso. Nas ruas do concelho contíguo ao Funchal são vários os espaços que prestam homenagem ao governante britânico e Nobel da Literatura. Mas que rumo deve o setor seguir? Manter-se fiel ao passado histórico ou inovar para o futuro? Ou ambas as coisas? Esta será a pergunta de um milhão de euros para um destino que tem conquistado vários prémios internacionais de relevo e que mais do que triplicou receitas desde a entrada no euro.
Os dois grupos hoteleiros consultados pelo Jornal Económico (JE) dão nota das suas estratégias para manter o turismo da Madeira nas ‘bocas do mundo’. OCEO do Pestana Hotel Group, José Theotónio, que dirige o maior grupo hoteleiro português, considera que a visão para o turismo madeirense, num horizonte de médio e longo prazo, tem de estar assente numa “evolução sustentável, capaz de oferecer experiências cada vez mais personalizadas e relevantes”. Não menos importante, “ajustadas à diversidade de perfis de visitantes” que o arquipélago continuará a atrair.
Na opinião de José Theotónio, a Madeira já tem um bom ponto de partida. A saber, a consolidação do arquipélago, ao longo das últimas décadas, como um “destino turístico de excelência”, amplamente reconhecido pela sua autenticidade, segurança, riqueza paisagística e património cultural.
“Esta base sólida confere-nos a confiança para projetar o futuro do setor com ambição, mas igualmente com sentido de responsabilidade”, assinala o CEO do Pestana Hotel Group.
Sérgio Costa, diretor de operações do The Views, grupo hoteleiro madeirense que ostenta uma estrela Michelin, considera que o destino Madeira se encontra numa “encruzilhada estratégica”. Ou seja, está perante um dilema: ou se “mantém fiel” a um passado de refúgio tranquilo ou se “abre a novos caminhos” que projetem a Região Autónoma como um “destino do futuro”.
Como se pode ultrapassar esta encruzilhada? A região tem de passar do tradicional “sol, mar e flores” para um “ecossistema de experiências transformadoras”, afirma Sérgio Costa. Mas isso, no entender do diretor de operações do The Views, “não significa abandonar os símbolos” que definem o destino, mas sim “dar-lhes uma nova vida e significado”.
Para isso, diz Sérgio Costa, “a Madeira pode e deve liderar” em áreas como o turismo regenerativo e de bem-estar – retiros holísticos, ioga em cenários naturais, terapias baseadas na floresta laurissilva; turismo criativo e cultural – gastronomia sensorial, música local, oficinas de artesanato; turismo científico e educativo – observação de cetáceos com fins pedagógicos, experiências de cidadania ambiental; turismo de longa estadia e trabalho remoto – com soluções de alojamento flexíveis e digitalmente conectadas.
“Se continuarmos a depender apenas do charme visual da ilha, arriscamo-nos a ficar para trás. Está na hora de ousar mais. A Madeira tem o potencial de ser uma referência global em turismo sustentável, criativo e regenerativo”, diz o diretor de operações do The Views.
O futuro da Madeira tem sabor a natureza
Crescimento é a expressão que melhor define o setor do turismo da Madeira ao longo da sua história. Mas não chega. Importa pensar que destino quer ser no futuro. A diferenciação é chave para os hoteleiros.
