As palavras dizem tudo sobre qual é a identidade futebolística de Fernando Santos: “Empatar ou ganhar 5-0 era a mesma coisa”. Disse-o após um empate sem explicações perante a débil República da Irlanda. E antes de uma derrota miserável perante a Sérvia. Como sempre, neste país que se recusa a crescer, coloca-se tudo nas mãos do destino. Santos é o treinador dos “ses”: se empatarmos, se os outros não ganharem, se uma galinha não desviar um golo certo, se o árbitro marcasse o penalty. Ou seja, é o guardião do passado. Portugal, sabe-se, é uma equipa que busca desde há anos a sua identidade através de uma geração de grandes talentos, cujo treinador transforma numa formação medrosa e redundante. Futebol é hoje emoção e espectáculo e não contas de somar e sumir, para um apuramento que não deveria ser um problema. O futebol de Fernando Santos, herdeiro das “vitórias morais”, do “perder por poucos” e das contas exaustivas para se apurar para o Europeu ou Mundial, não tem nada a ver com a qualidade dos jogadores à sua disposição. Encomenda o sono, desde há muito. Mas ninguém responsável parece reparar nisso. Como memória da emoção que o futebol deve ser basta-nos esta página empolgante do “Mundo Gráfico” de 1946, de um jogo Portugal-Inglaterra, onde Peyroteo tenta driblar o guarda-redes inglês. Os adeptos aplaudiram.