Oxford é um lugar de saber mas também de mistérios. De cumplicidades pouco transparentes e de valores demasiado líquidos. Um local perfeito para uma série policial, onde a lógica tradicional dos policiais está presente, mas onde o que se vê esconde quase sempre o que está na escuridão, seja o sangue ou o sexo. “Endeavour” (Fox Crime) é um policial que vai agora em oito temporadas (a última estreou há poucos meses na televisão britânica), com episódios de hora e meia, formato que nada tem a ver com o padrão delimitado pela cultura televisiva americana (cerca de 50 minutos). É uma série fascinante. Nela seguimos Endeavour Morse, o pouco comum nome do protagonista, um detetive com capacidades acima da média, que tem de atuar num meio policial corrupto. Pelas ruas de Oxford seguimos os assassinos, sob a constante presença da tutela universitária que funciona como uma teia que tudo condiciona. Ao lado de Morse surge um polícia tradicional, Fred Thrusday. A filha deste e Morse vivem uma paixão platónica, nunca concretizada.
A série nunca será de culto. É um honesto produto televisivo que nos distrai enquanto seguimos a juventude de um polícia fruto da Universidade de Oxford, na mutante sociedade de finais da década de 1960. De polícia de uniforme, passa a detetive de homicídios, mas a sua resistência moral leva-o a abandonar esta função. Quando ameaça os interesses instalados é recambiado para polícia de trânsito. Mas o seu espírito inquisito nunca desaparece. Nem o seu complexo de superioridade, que choca com o pragmatismo de Thrusday. Endeavour, ou melhor Morse (até porque o seu nome e atitude perante a vida tem tudo a ver com a lógica de um código que nem todos compreendem), é um bom momento televisivo.