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Nasdaq avança para negociação em blockchain

A operadora do segundo maior mercado do mundo está a trabalhar com o regulador para poder utilizar um sistema tokenizado, que permite a negociação da representação digital de ativos. É uma revolução em curso.

Negociação de títulos cotados em bolsa 24 horas por dia, sete dias por semana, sem intervalos, com a liquidação instantânea das operações, sem atrasos. Estas são promessas de um mercado de capitais que funcione com recurso a uma rede de blockchain e é isso que a Nasdaq quer fazer, aproveitando os ventos de feição para as criptomoedas soprados pela administração de Donald Trump, que tem avançado na flexibilização da regulamentação para este tipo de ativos.
A Nasdaq é o segundo maior mercado de ações do mundo em capitalização, depois da Bolsa de Nova Iorque. É um mercado digitalizado e automatizado, encarado como um indicador do mercado tecnológico. Esta semana, apresentou uma proposta à Comissão de Valores Mobiliários dos (SEC, no acrónimo em inglês) dos EUA para ajustar as suas regras e permitir a negociação de ações cotadas e produtos negociados em bolsa no seu principal mercado, “tanto na forma digital tradicional como na forma tokenizada”. Isto acontece dias depois de o próprio regulador ter divulgado a sua agenda, que inclui uma possível alteração para permitir a negociação de criptomoedas em bolsas de valores norte-americanos e sistemas de negociação alternativos.
Se for aprovada, será a primeira vez em que tokens, representações digitais de ativos (como ações ou obrigações) serão negociados num grande mercado de capitais e representará também a tentativa mais ambiciosa de um operador de bolsa de valores de trazer a liquidação baseada em blockchain para o sistema.
“É um desenvolvimento que é de enorme relevância porque assinala um passo decisivo na modernização dos mercados financeiros globais”, diz ao Jornal Económico (JE) Luís Tavares Bravo, economista, consultor e presidente da International Affairs Network. “Trata-se de uma potencial transformação estrutural dos mercados de capitais, capaz de redefinir a forma como investidores, empresas e instituições interagem, aumentando a eficiência, a transparência e a acessibilidade a nível mundial”, acrescenta.
“Marca o início de uma verdadeira revolução no ecossistema financeiro dos EUA com a Web3”, reforça Paulo Cardoso Amaral, professor da Universidade Católica de Lisboa.
Chuck Mack, vice-presidente sénior de Mercados na América do Norte da Nasdaq tem dito sobre a proposta submetida à SEC constitui um estímulo ao debate público e colaboração com stakeholders. “Estamos ansiosos para ouvir diferentes perspetivas. Aliás, parte da razão do nosso registo é fomentar o debate de forma muito transparente”, diz.
A Nasdaq não está a construir o seu próprio blockchain e propõe utilizar como base uma solução no Hyperledger Besu, um cliente Ethereum empresarial concebido para redes privadas. A proposta pretende alavancar a infraestrutura atual dos mercados dos EUA para permitir a negociação de valores tokenizados.
Coexistirão duas formas de negociação, a atual e a tokenização. Partirão do mesmo livro de ordens, terão a mesma prioridade de execução e garantirão os mesmos direitos dos acionistas. Mack sublinha que a Nasdaq que introduzir inovações, mas mantendo os pilares tradicionais dos mercados americanos de descoberta de preços, transparência e melhor execução.

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