A tecnológica francesa Cegid - que em 2022 comprou a Primavera BSS, agora Cegid Portugal – terminou o ano passado com uma faturação global de 852 milhões de euros, o que representa um aumento de cerca de 8% em termos homólogos. Só na região da Península Ibérica e África, as receitas foram de 168 milhões de euros em 2023, avançou ao Jornal Económico (JE) o novo diretor executivo da unidade de negócio PME e Contabilidade da Cegid em Portugal e África.
“Do ponto de vista de crescimento, ainda estamos a um dígito. O que nos exige a organização é crescer a dois dígitos para dar continuidade à sustentabilidade do negócio. O objetivo é ultrapassar os 62-63 milhões de euros em receitas [locais] este ano. Queremos também ganhar posição no brand awareness [reconhecimento de marca], porque achamos que ainda não temos um equilíbrio entre a posição do mercado e a liderança absoluta”, explica Josep María Raventós, que se juntou à empresa em novembro após 18 anos na britânica Sage.
Na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, Josep María Raventós mostra-se otimista para os próximos meses, uma vez que o primeiro bimestre de 2024 foi de crescimento significativo, e garante que a estratégia de M&A vai manter-se, mas apenas para comprar tecnologia que a Cegid não tenha ainda.
“Já havia uma parte importante de PME na Cegid, que era a Primavera, mas depois das adquisições do grupo, como a Vendus [Matosinhos] ou a Eticadata [Braga], formou-se um conjunto de empresas que se direciona a diferentes sectores. A Oakley Capital diversificou bastante o negócio”, diz o executivo.
Em Portugal, a Cegid tem 62 mil clientes, 415 trabalhadores e 400 empresas parceiras. Em África, o modelo organizacional é o mesmo. “Não tratamos de forma diferente. O nosso objetivo é liderar em todos os segmentos de mercado. Qual é a alavanca mais importante para lá chegar? O nosso canal de distribuição. Temos uma estrutura de 700 parceiros [Península Ibérica e África] que revendem e distribuem com certificações e competências para prestar esses serviços”, afirma ao JE.
Neste momento, a empresa está a fazer a racionalização do portefólio tecnológico, porque nos últimos dois anos foram compradas 20 empresas em Espanha e Portugal. “Com a saída dos antigos sócios, José Dionísio e Jorge Batista, o que a Cegid me pediu foi para começar pela transformação e integração da cultura e tecnologia das empresas adquiridas”, conta Josep Maria Raventós. Ou seja, rever o inventário e selecionar onde há redundâncias de software.
Em meados de fevereiro, a Cegid abriu o seu primeiro centro de Inteligência Artificial (IA) em Portugal para acelerar o desenvolvimento de soluções digitais. O plano inicial é recrutar mais de 50 engenheiros de software especializados em IA para este hub e depois ficar com 150 trabalhadores qualificados na área até 2025. Atualmente, mais de 30 dos primeiros 50 já foram contratados. “A IA é uma área na qual estamos a investir quatro milhões de euros. Porque é que temos este campus em Portugal e não em França ou em Espanha? Achamos que estamos a contratar pessoas com alto nível de formação nos polos universitários do Minho e Lisboa”, justifica.
Questionado sobre a saída de Santiago Solanas do cargo de CEO ibérico, América Latina e PALOP, Josep Maria Raventós clarifica que não há impacto na organização. “Tem uma mentalidade empreendedora. Provavelmente, sentiu que a sua missão estava cumprida”, refere ao JE. No âmbito desta mudança, Pablo Martínez assumiu a gestão interina e Santiago Solanas tornou-se CEO da Dalet no início de abril.