o PS nas três sondagens reveladas nos últimos dias, e realizadas quando ainda faltava cerca de mês e meio para as legislativas de 30 de janeiro, reforçara a convicção generalizada no governo e na oposição de que a possibilidade de que Rui Rio possa impedir António Costa de ser empossado primeiro-ministro pela terceira vez consecutiva é mais do que teórica.
Apesar de só a Aximage colocar os sociais-democratas próximos de alcançar os socialistas nas urnas, com um atraso de meros 2,2 pontos percentuais nas intenções de voto, os resultados divulgados pela Pitagórica (5,3 pontos de desvantagem) e pela Intercampus (menos 8,7 pontos) contribuíram para energizar o principal partido da oposição. E, em simultâneo, elevaram a soma dos partidos à direita do PS para valores na vizinhança dos 45%.
Em comparação com as legislativas de 2019, a cerca de mês e meio das eleições o PSD, também liderado por Rui Rio, oscilava entre os 20,4% da Pitagórica e os 23,6% da Intercampus, enquanto o PS se elevava dos 37,9% da Intercampus aos 43,6% da Pitagórica. Por seu lado, a Aximage atribuía nessa altura 38,4% aos socialistas e 20,6% aos sociais-democratas, sendo que a 6 de outubro o PS ficaria em 36,34% e o PSD recuperaria até aos 27,76%, com o CDS-PP e os recém-chegados Chega e Iniciativa Liberal a somarem menos de sete pontos percentuais.
Impulsionado pela vitória sobre Paulo Rangel nas eleições diretas para a liderança social-democrata, Rui Rio viu esse momento refletir-se nas sondagens e teve um momento de consagração no congresso do PSD, realizado em Santa Maria da Feira no passado fim-de-semana. Alguns contratempos, como a derrota de Nuno Morais Sarmento frente a Paulo Colaço no Conselho de Jurisdição, ou o bom resultado da lista para oConselho Nacional encabeçada por Miguel Pinto Luz – com o vice-presidente da Câmara de Cascais a assumir-se como a voz mais crítica -, não impediram que Rio fizesse passar a ideia de que a vitória nas legislativas é possível face ao desacerto evidenciado pelo Governo.
Abalado pelo desgaste de um Executivo em que a demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna poderá ter vindo demasiado tarde, António Costa contra-atacou com o apelo à maioria absoluta, mas nas hostes socialistas já soam alarmes quanto às possibilidades de o PSD ganhar mais terreno até ao dia das eleições. Ao entregar a lista de candidatos a deputados pelo círculo de Lisboa, na qualidade de presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, acusou os sociais-democratas de promoverem “um regresso ao PSD de Passos Coelho”. E reagiu ao desafio de Rio para entendimentos ao centro se nenhum dos dois maiores partidos obtiver maioria absoluta com a acusação de que Rio preferiu “construir uma coligação com o Chega” nos Açores – na realidade um acordo de apoio parlamentar – a viabilizar o executivo do PS, que foi o partido mais votado nas regionais açorianas.
Enquanto isso, mais à esquerda e mais à direita prevalece o receio do efeito que sondagens mais renhidas entre PS e PSD possam vir a ter na bipolarização do eleitorado, sendo certo que nas mais recentes o esvaziamento sucede sobretudo à esquerda, e a favor do PS, com o Bloco de Esquerda entre os 4,9% e os 7,3% (contra 9,52% nas últimas legislativas) e a CDU entre 4,5% e 5,9% (após o já de si historicamente fraco resultado de 6,33% em 2019). Pelo contrário, apesar de o CDS-PP estar à beira do abismo, com resultados entre 1,0% e 1,6%, Chega e Iniciativa Liberal aparentam ter condições para exponenciar os 1,29% que permitiram aos dois partidos a eleição de André Ventura e João Cotrim Figueiredo. No entanto, as perspetivas de resultados entre 6,2% e 8,9% para o Chega – com fortes hipóteses de subir a terceira força partidária – e de entre 3,7% e 6,4% para a Iniciativa Liberal precisam de superar o teste do apelo ao voto útil.