Gonçalo Cadilhe tem já vários livros publicados sobre as suas deambulações pelo mundo. Também fez documentários televisivos de história e viagens e é, provavelmente, o viajante-escritor português que ocorre à mente de todos quando questionados sobre o assunto.
Em “Sinal de GPS Perdido”, o seu mais recente título, publicado pela sua editora de há muito – o Clube do Autor –, Cadilhe narra viagens fora dos lugares comuns, esclarecendo logo à partida que ‘por fora dos lugares comuns’ deve entender-se na perspectiva do viajante e da sua atitude, e não propriamente pela dificuldade em lá chegar ou pouca atratividade.
Cadilhe partilha com o leitor uma viagem por Madagáscar, onde foi ver os famosos embondeiros; em El Salvador, onde se encontrava precisamente no dia em que o Vaticano anunciou a canonização de monsenhor Óscar Romero; na Ligúria, um dos mais importantes destinos turísticos italianos (basta pensar em Cinque Terre ou Portofino), onde descobriu o peso do clima (e, em particular, dos ventos) na definição de alguns traços da sua personalidade; ou, ainda, na ilha da Páscoa, que considera o lugar mais bizarro que já conheceu.
Assim, mesmo em lugares pouco remotos, mesmo em verdadeiros pólos de atração do turismo mundial, o que realmente faz de cada viagem uma viagem única é a perspectiva do viajante, o seu modo de encarar o que vê, com quem entabula conversa, o que come, etc. Mesmo com a imaginação repleta das imagens mais usuais de determinado lugar e de todos os lugares-comuns da narrativa de viagens, o viajante pode sempre deixar-se surpreender. E viver um episódio marcante, trazer recordações inolvidáveis de momentos vividos ou conversas aparentemente casuais; basta que se deixe levar, mesmo correndo o risco de perder o sinal de GPS.
Alternando aventura e episódios caricatos, humor e auto-ironia, memórias pessoais e perplexidade sobre o Outro, reflexão erudita e observações acutilantes sobre a História, a Geografia e o estado do mundo, o autor leva-nos por itinerários inéditos à redescoberta do prazer de viajar e de ler sobre viagens, de caminho desmistificando a ideia que “poder conhecer outras terras e contactar outros povos ainda se trata de um privilégio reservado a poucos: uns mais aventureiros, outros mais endinheirados”.
Como recorda, hoje, com as companhias de aviação de baixo custo, os hostels, a informação partilhada na internet, os guias de bolso, o euro (como moeda forte), os vistos que se tiram online e tantos fóruns de viajantes, viajar é mais fácil do que nunca.