Os bancos europeus estão a preparar-se para responder ao desafio do ESG (ambiental, social e governance), mas precisam que os seus clientes, nomeadamente as empresas, deem os mesmos passos. O sector procura garantir que o tecido empresarial que tem empréstimos por si concedidos cumpre os critérios ambientais, com quatro em cada cinco instituições a fazerem essa avaliação dos seus clientes, refere a Oliver Wyman. Quem não quiser ou não conseguir fazer esta transição arrisca-se a perder o acesso ao financiamento.
“A maioria dos bancos definiu políticas de exclusão que definem limites, deixando claro que não vão financiar empresas que tenham determinadas atividades”, afirma ao Jornal Económico James Davis, Co-Head Climate Sustainability, Europe and Partner Financial Services na Oliver Wyman, do grupo Marsh McLennan, notando que, “na sua maioria, estas políticas são aplicadas às atividades mais prejudiciais - por exemplo, 60% dos bancos inquiridos no nosso relatório mais recente com a CDP [uma agência de rating de ESG] estão a excluir atividades ligadas à energia gerada a partir de carvão e 40% as atividades relacionadas com a exploração de petróleo e gás no Ártico”.
Ainda assim, realça, a “maioria dos bancos prefere apoiá-las na transição e monitorizar o progresso. O nosso relatório conclui que quase 80% dos bancos estão a avaliar se as empresas que financiam estão alinhadas com o limite de 1,5 °C [de aumento da temperatura definido pelas Nações Unidas], pelo menos para alguns dos seus clientes”. Isto numa altura em que as empresas ainda têm muito trabalho pela frente nesta vertente.
“Embora 87% das empresas de todos os sectores tenham definido metas para as emissões, apenas uma em cada cinco empresas europeias está a fazer alterações significativas necessárias para ter um modelo de negócio mais verde”, realça o responsável da Oliver Wyman, explicando que em muitos casos sentem dificuldades em justificar uma alocação do investimento a iniciativas sustentáveis. “Concluímos que, embora a maioria dos sectores ofereça produtos verdes, em média apenas 20% das empresas gera mais de 25% das receitas a partir desses mesmos produtos”, detalha.
É junto destas empresas que se mantêm mais reticentes em fazer a transição que a banca pode desempenhar um papel relevante, tentando sensibilizá-las para a necessidade de cumprirem os critérios ESG. Só assim conseguirão ter acesso a financiamento, mas também ter um plano de negócios sustentável. “Os bancos têm um papel importante na disponibilização de financiamento para apoiar os esforços das empresas para terem modelos de negócio mais sustentáveis”, realça James Davis, notando que “há uma grande necessidade de investimento em áreas como a distribuição e geração de energia, transportes e indústria pesada”.
Os bancos estão a apostar na formação sobre o tema ao mesmo tempo que ele próprio ainda tem um caminho por percorrer. “O sector financeiro investiu muito na construção de novas capacidades, produtos e serviços no âmbito do ESG. Contudo, estas questões tornaram-se muito complexas, havendo muito debate em torno do papel adequado para as instituições financeiras, do desempenho misto de alguns investimentos centrados em ESG, do foco crescente nos riscos jurídicos e de reputação e nas prioridades económicas e políticas”, afirma o especialista, isto ao mesmo tempo que a transição para uma economia baixa em emissões de carbono pode representar “oportunidades significativas para as instituições financeiras”.
“Estamos a assistir a uma certa reorientação dos esforços como resultado destas tendências, mas ainda há muito mais a fazer para [a banca] aproveitar as oportunidades e gerir os riscos”, remata.