oi a pandemia que levou Miguel Palma a sair de Lisboa e o fez encontrar o refúgio onde se respira a sua arte, uma imponente casa no Ribatejo, onde agora vive, rodeado de tranquilidade e natureza e em cujo perímetro ficam também o seu atelier e o armazém onde guarda muitos dos seus trabalhos, expostos também nas paredes da casa, para deleite de quem a visita.
O trabalho de Palma lida frequentemente com questões sobre desenvolvimento tecnológico, ecologia, a crença em imagens, a ideia de poder, o mundo infanto-juvenil, a obsessão pela máquina, entre outros.
A sua arte desdobra-se em desenho, escultura, instalação multimédia, vídeo e performances.
Trata-se de uma obra com uma forte componente escultórica que utiliza métodos não tradicionais de produção.
Miguel colabora regularmente numa equipa de especialistas em diversos domínios, da carpintaria à mecânica, da engenheira à biologia.
O artista plástico tem vindo a desenvolver uma abordagem historicista, que entende como uma oportunidade para analisar e refletir sobre a evolução da tecnologia e de como esta condiciona o comportamento individual e coletivo em sociedade.
Alguns dos dispositivos que cria simbolizam a ironia com que aborda e reflete sobre a produção de conhecimento. Através de paródias, apresenta o reverso do conceito da perfeição e controle tecnológico da máquina.
Muitas das suas obras revelam um mundo manipulado e subvertido, mas são apresentadas sob uma perspetiva inocente ou nostálgica.
Neste sentido, o seu imaginário de criança interage na conceção das obras, remetendo para um universo pessoal que não deixa de ser simultâneamente irónico e icónico. Exemplo paradigmático são algumas das suas obras produzidas no ano de 2008, tais como “Google Plane”, exposta no Museu Coleção Berardo, em Lisboa.
O artista, que cresceu em Cascais, tem uma série de veículos construídos e alterados por si. “Engenho”, de 1993, obra realizada no âmbito da exposição “Imagens para os anos 90”, que esteve patente na Fundação de Serralves, consiste numa viatura construída artesanalmente capaz de percorrer grandes distâncias. Um dos projetos que tornou a sua prática artística mais visível em Portugal foi o Projeto Ariete, no qual Miguel se deslocou, numa viatura transformada por si, a várias instituições culturais europeias para dar a conhecer o seu trabalho.
“Rescue Games”, de 2008, é um barco de resgate com um mecanismo de simulação de ondas no seu interior. Como esta, várias das suas obras têm um valor funcional, remetendo diretamente para a prática do uso. Este modelo pode ser percorrido através de uma plataforma de metal instalada à sua volta.
Quando pensamos em Miguel Palma há todo um imaginário composto por instalações, esculturas, objetos, vídeos e performances, em que à partida não está incluído o desenho. Esta é uma vertente do seu trabalho que tem sido mostrada com menos frequência.
No entanto, o volume de trabalho em desenho deste artista, e a importância que esta vertente de criação tem no conjunto da sua obra, tem vindo a aumentar.
Na verdade, a presença do desenho no percurso profissional de Miguel Palma data de 1989. Todavia, até cerca de 2003 tal meio de expressão assumiu uma função complementar em articulação com o trabalho de escultura, de instalação ou de vídeo.
A partir dessa altura, porém, os seus desenhos ganharam autonomia, relevância e dimensão.