Por enquanto os estrangeiros estão impedidos de entrar no Japão. Mas assim que seja possível retomar as viagens ao ‘país do sol nascente’ “Primavera Tardia” é o guia certo para levar debaixo do braço. Misto de relato de uma viagem pela memória e pela paisagem do Japão, este livro envolve-nos numa forma de olhar que traduz na perfeição a calma respiração e as maneiras delicadas da cultura nipónica.
Ao deambular pela paisagem e pelo imaginário do Japão, os autores concluem que o único caminho possível é o da memória. Este livro reúne um conjunto de ensaios que escreveram numa viagem através do arquipélago no “incrível mês da chuva”, na transição entre a primavera e o verão de 2019. A descrição física dos lugares entrelaça-se com as reminiscências de autores e obras literárias, cinematográficas e arquitetónicas cruciais para definir a memória cultural e o imaginário japoneses. A natureza e a catástrofe, a memória e a esperança cruzam-se numa viagem pela história cultural do Japão.
A viagem começa em Tóquio, onde seguem os percursos de Haruki Murakami em “Norwegian Wood”, e exploram as propostas utópicas dos arquitetos metabolistas e as visões distópicas de Akira, entre o final da ocupação americana e o presente.
Prosseguem pelo arco da baía de Sagami, refletindo sobre as representações do Japão ao longo da Tokaido, uma paisagem povoada pelo imaginário de Yasujiro Ozu, Hokusai e Hiroshi Sugimoto. Continuam através dos vales de Kansai, com Sei Shonagon, explorando a religião e os mitos fundadores do Japão, entre o santuário de Ise e a corte imperial do período Heian. Viajam ao longo do mar interior de Seto, na companhia de Alain Resnais, Ishiro Honda e Rei Naito, encontram os vestígios do progresso tecnológico e do trauma provocado pelas bombas atómicas. Finalmente, atravessam os Alpes Japoneses seguindo a ‘peregrinação’ de Basho ao ‘interior profundo’ e confrontam-se com a catástrofe ambiental no imaginário de Yoko Tawada e Hayao Miyazaki.
Eliana Sousa Santos é doutorada pela Universidade de Londres e foi investigadora visitante na Yale School of Architecture. Foi curadora da exposição “A Forma Chã”, na Fundação Calouste Gulbenkian (2016), e recebeu o Prémio Távora da Ordem dos Arquitectos (2017). É investigadora integrada do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Tiago Silva Nunes é formado em Arquitetura e Cinema. O seu trabalho fotográfico foi publicado nos livros da série “Broken Strangers” (2010-14). Realizou curtas-metragens premiadas nos festivais Ovar Vídeo (2006) e Indie Lisboa (2011), e colabora regularmente com o ‘Público’.
“Primavera Tardia” é uma edição revista de uma série de ensaios que Eliana Sousa Santos e Tiago Silva Nunes escreveram para o ‘Público’, que resultou de um projeto de investigação intitulado “Neve, Cinzas, Flores de Cerejeira”, apoiado por uma bolsa da Fundação Oriente.