O termo Guerra das Estrelas começou por ser um título no lendário filme de George Lucas onde os rebeldes tentam destruir a Estrela da Morte do Império. Mais tarde, foi usado na década de 80 para caracterizar, de forma crítica, o programa de defesa dos EUA lançado por Ronald Reagan que previa, também, o uso de sistemas de mísseis no espaço. O fim da URSS ditou o fim do programa como originalmente concebido. Agora, há uma corrida ao espaço por parte das principais potências mundiais e há uma empresa portuguesa que quer participar.
A Neuraspace é uma empresa de Coimbra que já atua no setor civil do espaço, mas recentemente lançou um Neurspace DEF, um investimento de 25 milhões de euros.
Este software serve para equipar satélites para responder a ameaças no espaço, como armas anti-satélite (ASAT), jamming e spoofing de comunicações e navegação, ciberataques a satélites e estações de controlo, colisões com detritos espaciais, espionagem orbital e tecnologias orbitais potencialmente intrusivas.
Além do mercado europeu que é o espaço natural da companhia, os Estados Unidos da América também é apelativo. "É um mercado onde temos bastante expectativas. Todos estamos cientes da situação geopolíticas, mas continua a ser um mercado relevante. Já temos clientes nos Estados Unidos. A Saida Space 2 Space é o quarto maior operador comercial do mundo. É um player novo, cotado em bolsa", explicou ao JE Carlos Cerqueira, diretor de negócio na Neuraspace.
"E nos contratos com a defesa também há empresas europeias que trabalham com os Estados Unidos e temos essa expectativa fundada cá também. Além da comercial, também a defesa. A Europa e os Estados Unidos são os nossos mercados naturais", adiantou.
Os potenciais clientes são as "defesas de cada país. Estamos a testar este nosso produto com apoio da Força Aérea Portuguesa e estamos em conversações com defesas do espaço, onde há o bloco europeu. Participamos no maior projeto do espaço europeu, que é o projeto websérie que vai exatamente fazer um sistema do qual, digamos, a neurociência é uma peça, uma peça muito importante, mas uma peça num grande todo que permite fazer essa questão que eu estava a dizer, com, digamos, preocupações acrescidas de soberania, de redundância e de fiabilidade que é, por exemplo, em situações de, digamos, situações extremas em que a corte de comunicações ou algo assim, que permite olhar para o espaço, é detetar se há objetos não amigáveis, mas também fazer coisas como, por exemplo, tentar perceber intenções, ou seja, uma espécie de uma ação preventiva. A Europa está a fazer esse caminho".
O responsável explica que no espaço existem os "objetos não cooperativos, não amigáveis. E a Neuraspace faz exatamente isso: evita ameaças para os ativos que tem no espaço. Por exemplo, há armas neste momento que podem destruir satélites. Além da interferência nos satélites, como o jamming e o spoofing, mas também consegue detetar se há objetos não amigáveis a sobrevoar o nosso espaço e, portanto, dar esse alerta", explica.
O jamming tornou-se conhecido este ano após o avião da presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen ter sido alvo de um destes ataques. No entanto, a Neuraspace tem uma ferramento mais "mais vocacionada para as altitudes maiores de satélites. Imaginemos uma situação parecida num satélite, conseguiriamos olhar para um satélite, detectar preventivamente para depois os nossos clientes fazerem uma manobra evasiva para prevenir essa situação", explicou.
A corrida ao espaço disparou nos últimos anos e veio para ficar, acredita. "Há uma sofisticação também de actores, de actores considerados perigosos que obriga a que isto venha aqui para o topo da agenda. O acesso ao espaço, de certa forma, democratizou-se e é uma coisa boa. Temos cada vez mais satélites, que facilitam a nossa vida do dia a dia com geolocalização, as aplicações de mapas e impulsiona, uma série de indústrias. A economia do espaço dá muitos empregos. São um instrumento importante de soberania, mas também de ajuda, por exemplo, para questões marítimas, onde pode haver naufrágios ou questões onde tem de haver, por exemplo, a proteção civil, onde tem de haver uma atuação rápida. São ferramentas absolutamente essenciais e cada vez mais decisivas a salvar vidas".
"Mas como toda a tecnologia, também é uma faca de dois gumes, pode ser utilizada para fins não tão positivos. Essa democratização faz com que possa haver atores não bem intencionados. Um dos vários pontos de viragem foi o conflito na Ucrânia. Os drones são comandados por satélites, e o espaço tornou-se decisivo para dar apoio às operações terrestres. Também foi público a situação em que satélites funcionavam e deixaram de funcionar em operações militares, alterando completamente tudo o que estava planeado. Daí que os países tenham forçosamente que investir nesta área, tenham que ter ativos e ferramentas para proteger seus ativos", conclui Carlos Cerqueira.