Que questões da gestão do SL Benfica considera serem mais prementes resolver atualmente?
A SAD do Benfica inicia cada exercício com um prejuízo corrente médio relativo aos exercícios do mandato que agora termina, de cerca de 70 milhões. Resolver este tema deve ser o foco central em termos de gestão, procurando equilibrar os custos e as receitas recorrentes para que o Benfica não se veja obrigado a vender os seus melhores jogadores provenientes da formação por necessidade de encontrar o seu balanço financeiro.
Para o conseguir será preciso trabalhar quer na vertente da despesa, como da receita. Começando pelo lado dos custos, vamos introduzir a metodologia Kaizen, uma ferramenta de gestão reconhecida a nível mundial, que permitirá auditar toda a realidade financeira do Benfica, perceber onde há desperdício de recursos, de procedimentos e de custos. Com o trabalho que já desenvolvemos verificamos que a implementação desta metodologia no Benfica assegura uma redução de custos na casa dos 17%-20%, o que representará um valor na ordem dos 40 milhões de euros.
Do lado da receita, teremos dois pontos centrais na nossa estratégia. O primeiro ponto é o aumento do Estádio da Luz em 15 mil lugares, que irá assegurar um incremento de receita anual na casa dos 33 milhões euros, aos quais deverão ser subtraídos 10 milhões de euros referentes a amortização e juros do financiamento que quanto a mim deverá ser contratualizado a 10 anos. Com isto, desde o primeiro ano que teremos um valor livre para cash-flow de mais de 20 milhões de euros.
Estes trabalhos que terão uma duração de 24 a 36 meses, e que será feito bancada a bancada, permitindo assim manter aberto o Estádio durante o seu curso, terá um custo total aproximado de 85 milhões de euros e será executada com financiamento dedicado.
O segundo ponto é a proposta Benfica Global, um projeto que visa a verdadeira internacionalização da operação do Benfica, com grande foco em todas as geografias onde existem comunidades de benfiquistas superiores a 100 mil pessoas (números publicados pelo INE ao abrigo da Secretaria de Estado da Diáspora portuguesa no Mundo).
Iremos começar esta expansão através da criação do Cartão de Sócio Benfica Moçambique e Benfica Angola com um valor de quota mensal de entre 1 e 2 usd.
No caso de Moçambique já temos a operação praticamente fechada, com parceiros e sponsors locais, entre eles a maior plataforma de pagamentos bancários de África a M-pesa, que nos garantirá o meio de cobrança da quota mensal. Este tipo de Sócio terá acesso a uma fan zone para assistir aos jogos do Benfica em Maputo, com um ecrã gigante e várias animações dos parceiros locais, merchadising específico e ainda “comes e bebes” tal como acontece em Portugal nas fases finais dos Europeus e dos Mundiais de futebol. Depois de Maputo, Luanda se seguirá!
Estimamos que a partir do terceiro ano tenhamos um encaixe superior a usd15 milhões de Moçambique e de 15 milhões de usd de Angola.
Adicionalmente, iremos abrir escritórios de representação do Benfica nos EUA, Canadá, Suíça e França, onde trabalharemos com as Casas do Benfica locais para criar e organizar uma base de dados completa do universo de benfiquistas existentes em cada geografia. Teremos numa primeira fase os perfis dos adeptos do clube e os canais de comunicação com os mesmos, visando, posteriormente, criar escolas de futebol e de outros desportos, criar ofertas comerciais específicas para estes adeptos, tanto numa lógica de associativismo, como pela via comercial.
Este será o primeiro passo da criação do primeiro Clube Global do Mundo. Consideramos haver potencial para a abertura de clubes filiais do Benfica em França, na Suíça, nos EUA e no Canadá.
Comigo o Benfica irá mostrar a sua dimensão Social, cultural e económica no seu máximo esplendor!
Que política desportiva deve ser adotada no SL Benfica para que ganhe mais vezes?
Acima de tudo o Benfica precisa de estabilidade, não pode ser uma plataforma giratória de jogadores, com uma navegação à vista, onde se trocam plantéis e treinadores de forma regular. Por isso, o foco da nossa estratégia para o futebol assenta na definição de uma identidade transversal a todos os escalões, dos sub13 ao futebol profissional, tendo criado o cargo de diretor-geral, uma figura que irá coordenar toda a estrutura do futebol, incluindo Futebol Profissional, Futebol de Formação, Scouting e Futebol Feminino.
Encontrar alguém com esse perfil não seria uma tarefa fácil, mas Andries Jonker encaixa na perfeição ao ser alguém com uma experiência fantástica, em todas as áreas acima mencionadas. Trabalhou nos maiores clubes do mundo e na Federação Holandesa em diferentes cargos, passou por todos os sectores referidos, pelo que tem uma visão 360º do futebol, que irá aportar um valor único ao futebol do Benfica.
Com uma política estável, focada no médio prazo através da visão de Jonker, conseguimos pensar o futebol não só para o imediato, concentrado o dia-a-dia no treinador José Mourinho e no diretor desportivo, Mário Branco, com os quais Jonker trabalhará aportando a sua visão, tendo como o objetivo o sucesso do futebol do Benfica a todos os níveis.
Que competências tem e que considera faltarem nos outros candidatos?
Em primeiro lugar a capacidade específica para apresentar aos sócios do Benfica uma proposta estruturada em todas as áreas críticas para o clube. Construí uma equipa de pessoas com forte experiência em diversas áreas, sem qualquer ligação ao passado do clube e com uma vontade férrea de mudança, para ajudar o Benfica a regressar à glória, que faz parte da sua cultura e história. A proposta Benfica no Sangue é o resultado do trabalho dessa equipa. Em contraste, todas as outras cinco candidaturas apresentam ideias que não se materializam num caminho concreto para a sua implementação. Eu respondo ao como fazer e todos os demais não respondem a nada.
Consequência disso é que só um é que esteve disponível para debater frente-a-frente comigo. Isso diz tudo.
Outra diferença grande também ficou bem visível ao longo destes meses. Eu procuro a decência e cuidar do nome do Benfica mesmo em tempos sensíveis como são umas eleições. Sempre mantive e manterei uma postura elevada pois entendo que o exemplo é o primeiro passo para a mudança que todos os benfiquistas desejam. Infelizmente não vejo isso nos outros candidatos.
Por último o facto de ser livre e independente. Dá-me menos espaço mediático bem sei, mas os sócios do Benfica já perceberam as razões e eu pessoalmente não abdico de ter a liberdade para defender o Benfica em qualquer tema.
Que papel vai ter o SL Benfica liderado por si na questão da centralização dos direitos televisivos?
Ao longo dos últimos meses reuni-me com todos os intervenientes deste processo. Tenho um conhecimento profundo das diversas hipóteses e não tenho dúvidas que o melhor caminho seria o da entrada de um investidor (Espanha fez isso, França também e Portugal deveria fazer o mesmo) que garanta um pacote de 400 milhões de euros para a melhoria da infraestrutura do futebol português. Dos estádios de futebol dos clubes da Liga Portugal. Este tema é o “elefante na sala” e sem o resolver não conseguiremos obter receitas de venda dos direitos de televisão nem em Badajoz. Ninguém quer ver relvados que parecem campos de cebolas, estádios velhos e vazios com iluminações medíocres entre muitos outros problemas. Há que investir no produto antes de o tentar vender além-fronteiras. Depois temos a componente estratégica de venda. Esse mesmo parceiro deverá ser alguém com canais abertos para a disseminação do produto futebol português pelos quatro cantos do mundo. Alguém já implementado no negócio internacional e que o saiba fazer com sucesso.
Só este caminho garante que a centralização dos direitos de transmissão dos jogos da Liga Portugal será uma oportunidade de trazer mais disponibilidades financeiras para todos os clubes.
Os clubes têm de perceber que a centralização não é, pelo menos numa primeira fase, uma carta branca para receber parte do dinheiro que cabe ao Benfica. Há que investir, escolher o parceiro estratégico e trabalhar. Veja-se o exemplo da Liga Holandesa, onde as melhorias introduzidas nos últimos anos garantem uma qualidade homogénea de transmissões na TV similar às das top-5 na Europa.
A Liga Centralização tem uma proposta em cima da mesa de um investidor internacional de grande experiência nesta área e optou, até agora, por não a aceitar. Isso não é admissível na minha opinião e, enquanto presidente do Benfica, lutarei pela melhor solução para o Benfica e para a valorização do futebol português.
Se mantivermos o rumo que está a ser seguido, será um fracasso para o futebol português e uma desgraça financeira para o Benfica que trocará 52 milhões por 15 milhões de euros. Isto é inadmissível, mas os sócios não estão cientes que estamos perante este cenário.
Se trabalharmos com um investidor nos termos que tentei descrever, não só o Benfica assegura a correspondência entre o seu peso económico e o valor a receber, como poderá efetivamente ser um grande passo para o futebol português progredir e crescer.