Uma das grandes canções de David Bowie, “Space Oddity”, conta-nos a história de Major Tom, um astronauta que se perdeu no espaço, embora na altura se subentendesse que ele era uma metáfora de alguém que, tomando demasiadas drogas, se perdeu na Terra. O disco saiu em 1969, no período de auge criativo de Bowie. No ano seguinte editaria o álbum “The Man Who Sold the World”, talvez outra grande alegoria do mundo atual. Bowie era conhecido como o camaleão da música, pela sua capacidade de adaptação às mudanças e, também, porque conseguia sempre aperceber-se das tendências futuras antes delas se tornarem moda. Muitos anos depois, em 1997, ele tentou adquirir os direitos das suas antigas canções, que estavam nas mãos de um antigo agente. Seguindo os conselhos de um amigo, o banqueiro David Pullman, Bowie decidiu vender ao público em geral e aos fãs em especial, um produto financeiro revolucionário. Nasceram assim as “Bowie Bonds”.
Eram obrigações sobre as futuras vendas de discos do cantor. Tudo para conseguir rapidamente os milhões de libras necessárias para adquirir os direitos sobre as suas velhas melodias. Mas quem comprou as obrigações deparou-se com um problema.
Os discos de Bowie, depois de 2004, deixaram de ser sucessos de vendas, e a fé dos fãs transformou-se em pó. “Ashes to Ashes”, cantaria Bowie, prevendo a eventualidade. Mas Bowie mostrara o caminho. O futuro da música (ou melhor, os seus lucros) passaria pelos direitos.
Não surpreende que Bruce Springsteen, há dias, tenha vendido todo o seu catálogo à Sony por 500 milhões de dólares. Bob Dylan, Neil Young e os membros dos Fleetwood Mac já tinham feito o mesmo. O de Bowie está a caminho. Com a consolidação do mercado de streaming, que gera suculentos rendimentos de direitos, especialmente para aqueles autores e cantores que têm um património criativo de décadas, é um negócio de futuro. As canções são usadas na publicidade, nas bandas sonoras ou na televisão. É um contador que está sempre a pingar moedas. Para os artistas parece um negócio atrativo: recebem agora, enquanto estão vivos, o que teriam de esperar muitos anos para colher. E alguns não vão parar para já: Neil Young editou há semanas um novo disco e Bruce Sprinsteen não mostra sinais de se ir reformar. Ainda há muito para criar. E ganhar.