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O olhar rebelde?

Houve um tempo em que as capas dos discos eram obras de arte. Ou poderiam ser. Os CDs e a música digital eliminaram esse mundo de beleza que podíamos tocar com as mãos.

Houve um tempo em que as capas dos discos eram obras de arte. Ou poderiam ser. Os CDs e a música digital eliminaram esse mundo de beleza que podíamos tocar com as mãos. Uma delas simboliza, para mim, um tempo que a memória vai filtrando, mas não desaparece: a de “Searching for the Young Soul Rebels”, dos Dexys Midnight Runners. O ano era 1980 e a capa reproduzia a foto de Tony O’Shaughnessy, na altura com 13 anos, a fugir da sua casa em Belfast com uma mala, durante uma revolta civil que levou à fuga dos católicos na Irlanda do Norte. A foto apareceu no “Evening Standard” e foi aproveitada para a capa do disco dos Dexys. Tony chegou a encontrar-se várias vezes com Kevin Rowland, o líder do grupo, depois de ter descoberto que estava na capa do disco. O que iluminava essa capa era a tristeza dos olhos do jovem Tony, um rebelde em busca de causas. Uma imagem melancólica e perdida nesses tempos de fúria. Como o de um jovem Oscar Wilde em fuga para nenhures. Tony morreu há dias, aos 63 anos. A capa, e o olhar, ficam.

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