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Amor à venda

Quem nunca escutou “Love for Sale” de Cole Porter? A canção é um clássico: conta-nos, através do ponto de vista de uma prostituta, a sua proposta de venda de amor. Na altura, 1930, o tema foi alvo de ameaças de censura, mas com o tempo foi sendo gravada por múltiplos cantores, de Billie Holiday a Astrud Gilberto.

Quem nunca escutou “Love for Sale” de Cole Porter? A canção é um clássico: conta-nos, através do ponto de vista de uma prostituta, a sua proposta de venda de amor. Na altura, 1930, o tema foi alvo de ameaças de censura, mas com o tempo foi sendo gravada por múltiplos cantores, de Billie Holiday a Astrud Gilberto. E, claro, por Tony Bennett e Lady Gaga, no seu conhecido disco de duetos, “Cheek to Cheek”, de 2014. Agora, com Bennett, o eterno “crooner”, a rondar os 95 anos, as duas vozes reencontram-se e “Love for Sale” (CD Interscope 2021) é a alquimia perfeita para que tudo volte a correr bem. É quase um testamento final de Bennett ao mundo, ele que sempre teve as canções de amor debaixo da pele, deixando-as transpirar através da sua voz. E Lady Gaga empresta-lhe o seu universo pop. É deste choque de culturas que nasce um álbum atraente e acolhedor.
Poderiam estar neste disco “Standards” de Irving Berlin ou Gershwin, mas são 12 canções de Cole Porter as escolhidas para este encontro de vozes. Bennett faz um esforço e ninguém parece poder advinhar os seus problemas de saúde, incluindo a demência. É a força interior que o traz para este desafio sem fronteiras. Há uma química perfeita entre Gaga e Bennett e ambas as vozes parecem feitas para se completar no mundo do jazz de Cole Porter. É quase uma conversa o que se escuta, no meio da sofisticadas canções de Porter escritas há quase 100 anos. Os som dos metais e da bateria abrem o verdadeiro espetáculo com que nos defrontamos, como se estivéssemos num velho clube de jazz, com fraca iluminação, mas onde o ritmo e as vozes aveludadas aumentam o ritmo do coração. Escuta-se o notável “Night and Day” ou “I Get a Kick Out of You” com o prazer de escutar estes clássicos pela primeira vez. E há, claro, “I’ve Got You Under My Skin”, feita à medida de Bennett e de toda a sua vida como vocalista único. Ou a paixão total subjacente a “So In Love”, reflexo da dor que Porter sentia a escrever aos seus amantes. Um disco de renúncia e de celebração.

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