O ano passado foi marcado pela estabilidade nos negócios de fusões e aquisições, apesar da inflação persistentemente elevada, das taxas de juro altas, do crescimento económico e dos desafios colocados pelos conflitos geopolíticos, segundo o MS European Private Equity Study, que analisa os negócios de private equity assessorados pela rede de sociedades de advogados da CMS, que está presente em 47 países, incluindo Portugal.
O fluxo de negócios aumentou no último trimestre de 2023 e, para este ano, ainda que se mantenha a incerteza, a CMS espera uma melhoria do enquadramento, à boleia de uma inflação mais reduzida e do início do processo de redução das taxas de juro na Europa – em que o Banco Central Europeu já de o primeiro passo – e nos Estados Unidos da América.
“Persistem riscos económicos relevantes, mas também riscos políticos muito significativos originados pelos conflitos em curso e tensões associadas”, diz ao Jornal Económico João Caldeira, sócio de Corporate M&A da CMS Portugal, mas acrescenta que, caso não se verifique um significativo agravamento dos conflitos ou das tensões, “é de certa forma expectável que esses riscos não pesem demasiado nas decisões dos investidores, que já interiorizaram que a tensão geopolítica se manterá no curto-médio prazo e que não terão outra alternativa que não seja tomar decisões neste ambiente”.
No ano passado, mais de dois terços dos mais de 100 negócios analisados neste estudo foram de novos investimentos (69%) e metade de todos os negócios feitos fazem parte de estratégias “de aquisição e construção”, mas o estudo refere que as saídas vão subir. “Questionados, muitos fundos de private equity confirmam estar prestes a iniciar processos de saída e vimos, de facto, um pequeno aumento nos leilões e processos de licitação em 2023, que se espera que se transforme numa tendência crescente em 2024”, refere o estudo.
“Os fundos de private equity estão pressionados para realizar desinvestimentos em 2024, relativamente a empresas há demasiado tempo nos seus portfolios, o que origina oportunidades para aquisições secundárias”, diz João Caldeira, que não exclui que ocorra, também, uma “aceleração do fluxo de transações primárias, uma vez que os empresários estão mais abertos a estabelecer parcerias com investidores financeiros e os fundos dispõe de liquidez para investir”.
A CMS prevê que os negócios, em 2024, se concentrem, principalmente, nos mesmos sectores do que no ano passado, na Tecnologia, Media e Telecomunicações, Ciências Biológicas e Produtos de Consumo. Depois, o sector da Energia e Serviços Públicos, que já tinha evidenciado um crescimento rápido em 2023, deverá ganhar mais importância, em especial nas energias renováveis.
“Todos os sectores que não são especificamente afetados pela pressão das margens nem pela diminuição da procura serão particularmente interessantes para fundos de private equity”, ou seja, empresas que conseguem passar aumentos de custos para os clientes sem que isso leve a uma redução da procura.