Os bancos estão a conceder menos crédito para a compra de casa, num cenário ainda dominado por juros elevados. O mesmo não se pode dizer do crédito ao consumo, um segmento que está a seguir a tendência inversa, com mais portugueses a pedirem este tipo de empréstimos às instituições financeiras. Este maior interesse surge num contexto de taxas que continuam a subir, tendo alcançado máximos de dez anos. A banca, que está a apostar neste tipo de crédito, afasta receios.
O montante de novos contratos de empréstimos a particulares diminuiu 140 milhões de euros em janeiro de 2024, fixando-se em 1.787 milhões de euros. Esta redução observou-se nas finalidades de habitação (menos 141 milhões de euros) e nos outros fins (menos 46 milhões de euros), mostram os dados do Banco de Portugal (BdP) divulgados esta semana. Já os novos empréstimos ao consumo cresceram 46 milhões de euros, para 440 milhões de euros. No ano passado, no mesmo mês foram concedidos 391 milhões.
Assiste-se, de acordo com estes dados, a um crescimento da procura por este tipo de financiamento, ainda que, explicam fontes do setor, também possa estar a ser influenciado por transferências de crédito por parte dos clientes entre instituições financeiras. O aumento do montante concedido regista-se numa altura em que a taxa média das novas operações está também a subir. A taxa aumentou de 9,07% em dezembro de 2023 para 9,44% em janeiro, ummáximo desde fevereiro de 2014, ou seja, em quase uma década. Na Zona Euro, a taxa média também aumentou, mas de 7,7% para 8,02%.
Questionada pelo Jornal Económico sobre como vê o facto de se registar um aumento do endividamento no crédito ao consumo num cenário de juros elevados, o que pode ditar um aumento do incumprimento, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) afirma que o “volume de crédito concedido é o resultado agregado de decisões individuais, quer dos consumidores, quer das entidades financiadoras, que atuam num mercado concorrencial, com base nas avaliações de risco e retorno que individualmente fazem”.
A associação relembra ainda o que tem sido dito pelo BdP, nomeadamente que se tem “verificado uma melhoria do perfil de risco dos novos mutuários, em consequência da introdução da recomendação macroprudencial, relativa aos novos créditos à habitação e ao consumo”. Além disso, e de acordo com o regulador, o “crédito ao consumo está relativamente concentrado em famílias de rendimento mais elevado e é dominado por contratos a taxa fixa”, refere a APB.
A par desta maior procura por crédito ao consumo, e quebra na concessão de crédito à habitação, os bancos também têm vindo a apostar neste segmento. Como o JE escreveu, há instituições a darem vouchers a clientes que usem o cartão de crédito, mas também a creditarem nestes cartões parte do dinheiro gasto no supermercado. Mas também há bancos a enviar notificações através das aplicações móveis a oferecer crédito pessoal, nomeadamente para a compra de smartphones.