Skip to main content

Jerome Powell, o presidente que revolucionou a atuação da Fed

Assinalou-se ontem, 25 de novembro, mais um Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Mais um dia. Mais um dia de medo para milhares de mulheres.

A recondução de Jerome Powell à frente da Reserva Federal (Fed) norte-americana chegou a ser colocada em causa por alguns analistas e políticos daquele país, mas a Casa Branca anunciou esta semana a decisão de nomear o antigo banqueiro para um segundo mandato. Com o país a recuperar da maior quebra do PIB de que há memória, tendo já chegado aos níveis de riqueza pré-pandemia, a inflação é agora a maior preocupação dos legisladores, ainda que Powell mantenha a sua avaliação de que a elevada pressão nos preços decorre sobretudo de efeitos transitórios. A sua recondução, perspetivam os especialistas ouvidos pelo JE, deverá sinalizar a manutenção desta postura, num mandato que será marcado pelos desafios profundos que a maior economia mundial enfrentará.

Eleitor republicano registado e advogado de formação, Powell transitou para a Fed em 2018 pela mão do então presidente Trump. Depois de uma experiência falhada de redução do balanço do organismo, a Reserva Federal viu-se obrigada a subir as taxas de juro diretoras, o que levou Trump a apelidar o seu nomeado para liderar a autoridade monetária de “inimigo”.
Com a chegada da Covid-19, a resposta do organismo foi musculada e levou a elogios bipartidários, uma raridade no atual panorama político norte-americano. Powell liderou o organismo em estratégias sem precedentes na história monetária do país, o que ajudou a estabilizar a economia. No entanto, a magnitude desta resposta foi vista por muitos analistas como tendo o potencial para criar desequilíbrios graves, sobretudo no mercado de capitais, que experienciou um crescimento assinalável desde o início da pandemia.

A Fed tem estado no foco dos investidores mundiais, dada a política de apoio à economia norte-americana através do maior programa de compra de ativos de que há memória no país, apesar da pressão inflacionária que se tem vindo a sentir.
Com o índice de preços no consumidor dos Estados Unidos a subir acima de 2%, o alvo da autoridade monetária para o médio e longo prazo, em abril até atingir o registo mais elevado desde 1990 em outubro, com uma variação homóloga de 6,2%, a expectativa para o anúncio da retirada gradual dos apoios à recuperação nos Estados Unidos vinha acumulando. Ainda assim, Powell manteve o seu discurso sobre uma inflação maioritariamente temporária e transitória, assente sobretudo em efeitos base e em perturbações nas cadeias de fornecimento decorrentes da reabertura da atividade na maior parte dos países ocidentais.

Como tal, não se perspetiva um mandato fácil, considera Filipe Garcia, presidente da Informação de Mercados Financeiros (IMF). “Não será um mandato fácil. Terá de gerir o processo de normalização da política monetária, controlando a inflação e retirar estímulos e juros baixos sem prejudicar a recuperação económica. O aumento da dívida pública obrigará a que muita da credibilidade do dólar passe pela Fed”, antecipa.

As dificuldades são também apontadas pelo economista-chefe da AllianzGI, Stefan Hofrichter, que recorda, em declarações ao JE, que Powell terá de “gerir a saída da política ultra acomodatícia e começar a normalizar as taxas de juro num ambiente caracterizado por uma inflação surpreendentemente elevada”.

“Apertar a política monetária será particularmente complicado, dado que a economia americana e global se tornaram mais alavancadas durante a Covid e uma retracção demasiado abrupta poderá deixar o sector privado vulnerável à subida das taxas de juro”, completa o responsável da AllianzGI.

Apesar de ter sido equacionada uma opção ainda mais dovish, personificada pela antiga subsecretária do Tesouro dos Estados Unidos para Assuntos Internacionais, Lael Brainard, a escolha recaiu num segundo mandato de Powell. Além de tal sinalizar “um reconhecimento de que o trabalho de Powell tem agradado” à Casa Branca, denota Filipe Garcia, dever-se-á manter a atual estratégia, antecipa uma nota da Goldman Sachs.

O banco de investimento norte-americano prevê uma “continuação da atual política monetária” que se traduzirá em subidas das taxas de juro em julho de 2022, uma segunda em novembro e um percurso de duas subidas anuais a partir de 2023.
Outro dos sinais desta recondução é o reforço da independência deste órgão. Ao renomear um republicano, a atual administração democrata pretende “assegurar a independência da Fed num contexto de implementação de medidas fiscais de grande dimensão”, diz Filipe Garcia, colocando em cima da mesa a possibilidade de acordo entre ambas as partes.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes, faça login ou subscreva o Jornal Económico