Depois de um forte crescimento nos últimos anos, o sector exportador iniciou 2024 com menor fulgor, dando continuidade à fraqueza mostrada do lado dos bens no ano anterior. O primeiro trimestre fechou com um recuo de 4,2% das exportações de bens, com março a registar quedas em termos homólogos em todas as categorias de produtos, um sinal claro de que o sector exportador atravessa tempos menos favoráveis, sobretudo dado o aperto monetário na zona euro e a tensão geopolítica global.
A fraqueza das exportações nacionais vem já do ano passado, embora disfarçada pelo impulso dado pelos serviços, sobretudo o turismo. Os dois anos consecutivos de recordes históricos no sector, que se tem tornado um dos mais relevantes da economia portuguesa, ajudaram a compensar o défice crónico do lado dos bens, um cenário que agora se agrava com as dificuldades económicas dos principais parceiros comerciais e também com novas tensões globais que ameaçam o comércio internacional.
O saldo da balança de bens até ficou menos negativo, melhorando de 2.356 milhões de défice em fevereiro para 1.621 milhões em março, fruto de uma queda em cadeia de 5,6% do lado das importações combinada com uma subida de 2,4% nas exportações. No entanto, o resultado homólogo é bem distinto: as vendas ao exterior caíram 13,6%, o maior tombo do último ano, enquanto as compras recuaram 15,5%, o segundo recuo mais expressivo dos últimos doze meses.
Olhando para os indicadores sem a componente de combustíveis e lubrificantes, a mais volátil, os decréscimos são os maiores do último ano, com as exportações a descerem 13,6% e as importações 13,1%.
Dois efeitos predominantes determinam esta tendência, explica Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP): a política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que tem decretado uma subida dos custos de financiamento, e a tensão geopolítica internacional, sobretudo em zonas altamente sensíveis para o fluxo de mercadorias a nível global.
“Denota-se ainda que as condições internacionais adversas têm vindo a afetar, com grande intensidade, os principais parceiros comerciais do país, pelo que exponenciam os efeitos negativos no comércio internacional português”, acrescenta. “Por se tratar de um sector de bens transacionáveis internacionalmente, a indústria, em particular os fornecimentos industriais, tem sido o mais afetado, com decréscimos nas exportações de 16,9% e nas importações de 26,9%, no mês de março.”