A geografia partidária que saiu das eleições para o parlamento da Catalunha lançou a autonomia numa encruzilhada política com diversas geometrias possíveis. Como afirmou ao JE o investigador especialista em política espanhola Diogo Noivo, “a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) é neste o partido mais poderoso da autonomia, uma vez que pode escolher com vai formar o próximo governo”.
Mas essa não é a prioridade imediata do partido – o que o chefe do governo de Madrid, o socialista Pedro Sánchez, agradece, dado que não quer ter nenhum desaire regional depois de o Partido Socialista da Catalunha ter sido o mais votado. É que a derrota eleitoral fez com que o partido perdesse 13 deputados, não indo agora além dos 20, mas também o seu líder, Pere Aragonès. A ERC está, portanto, em plena mudança de ciclo e não dá mostras de grande pressa. Para já, o que se sabe é que Aragonès, até agora presidente da Generalitat, não está disponível para continuar no partido e que o líder ‘histórico’, Oriol Junqueras, está. Junqueras anunciou por meio de carta que havia decidido ficar e assumir o desafio da reconstrução do partido. Do muito que não se sabe, o mais importante neste momento é que posição irá tomar a secretária-geral do partido, Marta Rovira, a terceira grande figura da ERC. Em princípio, dizem os analistas, optará por deixar a ERC à nova geração – e aconselhará Junqueras a fazer o mesmo.
Enquanto a ERC ‘lambe as feridas’ abertas pelas eleições e trata do seu futuro, nenhum dos seus membros esclarece (nem poderia) o mais importante: de entre os seus dois ‘inimigos’ – o PSC porque não é independentista e o Junts per Catalunya, que, sendo-o, não é de esquerda – qual decidirá apoiar para a constituição do próximo governo da autonomia?
O líder socialista local, Salvador Illa – concertado com o próprio Sánchez – quer o apoio da ERC. Que, aliás, está estabelecido ao nível do governo central – pelo que seria natural que esse apoio surgisse. Do outro lado, Carles Puigdemont, líder do Junts, já enviou um ‘recado’ para os ‘colegas’ independentistas de esquerda: talvez esteja chegada a altura de os partidos que querem a separação de Espanha se ‘combinarem’ para formar governo. A altura parece aconselhar a essa união: é que desde as eleições de 1980, recorda Diogo Noivo, que os independentistas não perdiam, em conjunto, umas eleições. Pois bem, aconteceu outra vez: os partidos independentistas têm menos de 68 deputados no novo parlamento (o número mínimo para a maioria absoluta).
Para o especialista em política espanhola, “não é fácil concluir-se daí que o independentismo perdeu força; talvez seja apenas uma questão de abstenções”. Mas, para todos os efeitos, ou menos na ótica do independentismo de direita, não é altura para divisões. Ou então é, na ótica do independentismo de esquerda.