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“Há franjas da população que sentem que o sistema não responde às necessidades”

Balanço Social 2023: Susana Peralta sublinha as diferenças nos dados da população pobre e da população não pobre, seja na privação material e social, ou na desconfiança no sistema democrático.

O relatório Portugal, Balanço Social 2023, divulgado esta quarta-feira, revela que a taxa de risco de pobreza aumentou de 16,4% para 17% em Portugal no ano de 2023. O estudo realça igualmente a prevalência da situação de pobreza em grupos mais vulneráveis, como as crianças e os idosos.

O estudo foi realizado por Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Miguel Fonseca, que fazem parte do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, e foi lançado em parceria com a Fundação la Caixa. O Jornal Económico falou sobre o relatório com Susana Peralta, que destacou alguns dos dados deste trabalho. Lembrando que o relatório apanha a fase mais aguda da crise do poder de compra e da inflação, a investigadora refere que isso permitiu aos autores analisarem as medidas de privação material e social e depois, ao separarem as pessoas com dificuldades financeiras das pessoas sem dificuldades, verificar que “há um aumento da privação generalizado na população pobre e uma diminuição da privação ou aumentos pouco significativos na população não pobre, o que mostra que realmente a inflação tem efeitos muito desiguais”. “Nesse caso o que se verifica é que foi a população pobre que teve de fazer mais sacrifícios e teve de se privar desses itens essenciais. Esse é um dado importante no relatório deste ano”, vincou Susana Peralta.

Outra conclusão do relatório que salienta diz respeito à comparação da taxa de risco de pobreza entre os residentes portugueses e os residentes estrangeiros. “Temos os residentes estrangeiros a bater nos 30% da taxa de pobreza”, assinala. A economista acrescenta que se verifica inclusivamente uma distinção entre os estrangeiros com origem europeia e os de não origem europeia. “Os emigrantes diferem muito consoante a sua origem geográfica”.

Desconfiança na democracia
Um dos capítulos do relatório aborda as Perceções, Expectativas e Confiança nas Instituições. Este capítulo evidencia também as diferenças entre a perceção das pessoas com dificuldades económicas e as que não têm, nomeadamente no sistema democrático e nas suas instituições. “Isso alerta-nos para algumas disfunções numa democracia. As pessoas pobres têm uma grande falta de confiança e isso questiona a qualidade da própria democracia, uma vez que estas pessoas sentem que as instituições não cumprem com elas”, constata Susana Peralta.

Para a coautora do estudo, isto demonstra um problema relevante na sociedade portuguesa. “Mostra que há franjas da população que sentem que o sistema não responde às suas necessidades. Essas pessoas colocam em causa a própria democracia”. A investigadora considera que “de um ponto de vista mais pragmático, esta situação gera terreno para projetos que coloquem em causa esse conjunto de instituições e o sistema democrático, para poderem crescer e vingar. Isso é uma grande preocupação. É algo que nos deve convocar para uma reflexão”, adverte.

Susana Peralta elogiou ainda as palavras da ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, que enfatizou o papel que os trabalhos da academia podem ter nas políticas públicas. “Precisávamos de uma abordagem mais sistematizada de política baseada em evidência”, afirma.

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