Skip to main content

Escalada nos preços da energia traz ameaça de falências aos têxteis

Associação que representa um dos sectores tradicionais da economia portuguesa defende que o aumento dos custos não pode ser transferido para os clientes, colocando sob pressão a sustentabilidade de muitas empresas. Ministério da Economia diz estar “a estudar o assunto”.

Apesar do impacto da pandemia na atividade têxtil em Portugal, o sector vem recuperando, tendo mesmo ultrapassado, até agosto deste ano, os valores das exportações em igual período de 2019. Ainda assim, o rápido crescimento dos preços da energia ameaça a sobrevivência de muitas empresas, alerta a Associação dos Têxteis de Portugal (ATP), que teme uma nova crise decorrente deste efeito,
mesmo com o crescimento das encomendas para o próximo ano.

Até agosto deste ano, os dados da ATP apontam para uma subida de 1,2% em relação ao volume de exportações registado em 2019, antes da chegada da Covid-19. Nesse mês, a variação mensal homóloga em relação a 2019 foi de cerca de 10%, depois de, em julho, o valor global das exportações neste ano ter já ultrapassado em 0,2% as registadas no mesmo período de há dois anos.
Estes dados sugerem uma evolução positiva do sector, o que deixaria perspetivar um 2022 de crescimento. No entanto, a subida dos custos colocam esta trajetória em risco, especialmente os decorrentes dos preços da energia, que assumem uma preponderância significativa na atividade.

“As perspetivas para o próximo ano seriam boas, em termos de encomendas e consequentemente em termos de exportações e volume de negócios, não fossem os vertiginosos aumentos dos preços da energia, em especial do gás natural”, alerta Mário Jorge Machado, presidente da associação. Este responsável destaca ainda “as dificuldades de fornecimento e igual subida de preços de matérias-primas, situação que está a impor enormes constrangimentos à atividade das empresas do sector, com maior relevância para as atividades mais a montante da fileira, mas com reflexos em toda a cadeia de valor”.

A ATP reflete as preocupações dos empresários do sector com o aumento de 500% no gás natural, de cerca de 300% em algumas matérias-primas e da subida da eletricidade para o dobro do preço. Dada a estrutura de custos das empresas do sector, que por vezes envolve maquinaria pesada a laborar 24 horas por dia, este fenómeno, “em especial do gás natural, poderá de facto impor o fecho de algumas empresas do sector, caso não se encontrem formas de atenuar esta situação”, revela o presidente da ATP e administrador da empresa Adalberto.
“Os custos da energia podem representar 30% ou mais dos custos produtivos em determinadas atividades da fileira têxtil (fiações, tecelagens, tricotagens, tinturarias, acabamentos), essenciais para a execução de encomendas, com impacto nas atividades que estão a jusante, ou seja, é uma questão transversal a todo o sector”, acrescenta. E a situação pode agravar-se, dado que “os contratos de fornecimento de energia são negociados em momentos diferentes e algumas empresas ainda estão a pagar energia a preços negociados no primeiro semestre do ano”.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes, faça login ou subscreva o Jornal Económico