No ano que marca o 35.º aniversário da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), Portugal viu a proposta de Orçamento do Estado ser chumbada, depois de o Governo apresentar um documento que, dizia, visava estimular o emprego jovem. Para Alexandre Meireles, presidente da associação, importa agora retomar a estabilidade governativa para ultrapassar obstáculos que continuam a dificultar a criação e crescimento de marcas fortes no nosso país, como as carências de investimento, a burocracia e a carga fiscal.
Portugal desenvolveu nos últimos 35 anos “uma moderna rede de incubadoras, bons programas de aceleração, talento com mentalidade empreendedora, universidades com predisposição para a inovação e centros de I&D capazes de desenvolver novos produtos e tecnologias”, nota Alexandre Meireles, ilustrando “um extraordinário desenvolvimento do ecossistema empreendedor português”.
Ainda assim, as dificuldades permanecem. Em particular, o acesso ao crédito para startups é problemático, visto que o “crédito bancário para as startups é limitado e caro” e as alternativas escasseiam, como soluções de microcrédito ou investidores com interesse neste tipo de organizações e “que compreendam a sua natureza muito própria”.
Acresce ainda uma burocracia e fiscalidade excessivas que dificultam o desenvolvimento de projetos empresariais e a retenção de talento, bem como uma frágil “relação entre o sistema científico e tecnológico e o meio empresarial” que impossibilita uma componente mais relevante de pesquisa e desenvolvimento ou inovação. E o chumbo da proposta de Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) não deverá ajudar à resolução destes problemas, podendo, ao invés, “dificultar a recuperação pós-pandemia, retardar novos investimentos, inibir o consumo e prejudicar a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, perspetiva o presidente da ANJE. Escusando-se a comentar medidas que tenham sido travadas pela rejeição do OE2022, Alexandre Meireles reconhece o mérito, por exemplo, da anunciada subida do salário mínimo.
“Os ordenados, em Portugal, são baixos. Há 60% dos portugueses a receber menos de 800 euros”, realça, o que mostra que “o trabalho não está a cumprir a sua principal função, que é dar condições de vida às pessoas”. E sinaliza dois problemas: “O salário mínimo é baixo e o médio também. É claro que para nós esta realidade tem de mudar. No caso das empresas, em sede de IRC, deviam ser majoradas as que aumentassem os salários, por exemplo. Os impostos sobre o trabalho estão em níveis altíssimos”, argumenta, recordando ainda a “crescente escassez de mão-de-obra em alguns sectores, sendo necessários melhores salários para atrair trabalhadores e quadros”.