António Martins da Costa, presidente da PROFORUM, teve a ocasião de cumprimentar Hu Jintao quando o antecessor de Xi Jinping visitou Portugal em novembro de 2010. ”O que faz?”, perguntou-lhe o presidente da China. “Sou engenheiro, engenheiro civil”, disse. Como resposta, escutou um “também eu”. Acrescentou: “Especializei-me em Hidráulica”. Definitivamente, nessa altura, ouviu o que não esperava de todo: “Também eu”.
A conversa e a não menos surpreendente descoberta de que um colega da mesma especialidade conduzia os destinos do país mais populoso do mundo, não passou daí. No entanto, para o presidente da Associação para o Desenvolvimento de Engenharia, foi reveladora do poder que a Engenharia detinha já nessa altura na República Popular da China. Esse papel no desenvolvimento das últimas décadas ditou a construção e edificação de todo o tipo de infraestruturas, mas também a evolução da base tecnológica da economia. Do país que passou da cópia e do roubar ideias para país gerador de inovação.
“Um engenheiro não tem de ser necessariamente o número um do Governo, mas um governo que não têm engenheiros é um governo pobre”, diz António Martins da Costa ao Jornal Económico. Não se trata de – esclarece – retirar o mérito aos decisores políticos, que podem vir de qualquer background académico, serem juristas, economistas, arquitetos, médicos... “Precisamos deles”, mas de enriquecer o naipe da governação, por razões inerentes à profissão em si, àquilo que é.
“Os engenheiros são um conjunto de pessoas com talentos específicos para promover o progresso e o desenvolvimento da sociedade nas suas diferentes vertentes”, explica. O engenheiro conhece os ‘comos’, o modelo de funcionamento das coisas. É isso que o move.
Portugal não teve nos 50 anos de democracia nenhum Presidente da República que fosse engenheiro, mas teve chefes do Governo. Mesmo colocando um parêntesis em José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, por ser engenheiro técnico – o que não é bem a mesma coisa e na altura ainda era menos –, o mister foi exercido por três ilustres filhos da maior Escola de Portugal: o Instituto Superior Técnico.
Maria de Lurdes Pintassilgo, engenheira químico-industrial, foi a única mulher primeira-ministra (de julho de 1979 a janeiro de 1980). António Guterres, atual presidente da ONU, o último engenheiro a ocupar São Bento, tinha a especialidade em Eletrotecnia. Já Alfredo Nobre da Costa, convidado pelo Presidente da República Ramalho Eanes a chefiar um governo de iniciativa presidencial, esteve no poder escassos meses, mas tinha todo um perfil – engenheiro mecânico e empresário, gestor e administrador, fundador da Lusotecna e presidente da Sacor.
“A engenharia pura tem de ser sempre matizada com aquilo que é uma ótica de custo benefício”, afirma António Martins da Costa. O engenheiro procura a perfeição e o melhor nem sempre é possível, porque os recursos são sempre escassos, esse é, de resto, o primeiro mandamento de qualquer economista. Nada, pois, como cruzar as duas ciências. Capítulo em que Alfredo Nobre da Costa foi realmente príncipe.
Da China a Portugal. O papel dos engenheiros no Executivo
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A China moderna construiu-se sob a liderança dos engenheiros comunistas. Nos 50 anos de democracia, Portugal também teve engenheiros em São Bento. Belém é que ainda não.